A humanidade nem sempre segue a racionalidade. No afã de obter êxitos materiais, agarra-se a uma equivocada noção de progresso. Tudo o que o dinheiro conseguir comprar está à venda. Sacrificam-se os valores, a cultura, os bens intangíveis destruídos pela sanha demolitória.
Não é apenas a demolição física. Esta prossegue com tenacidade. O Brasil não respeita sua jovem História. As cidades perdem seus parâmetros, suas referências afetivas, seus marcos tradicionais. Para quem sepultou riachos, córregos e matou três grandes rios, o que significam edificações de alvenaria? A pior é a demolição moral. A incivilidade é a marca da postura contemporânea. Maus modos, rispidez, grosseria, falta de compostura. Em setores que deveriam funcionar como paradigmas.
Descrença generalizada, acintes, ofensas e maledicência. Presunção de má-fé, enquanto o discurso e o ordenamento prestigiem formalmente a boa-fé. O inocente é sempre chamado a fazer a “prova diabólica”: provar que não fez. Que não é o responsável por aquilo de que o acusam. O lamaçal ético não respeita ninguém. Bons e maus, honestos e corruptos, todos são atingidos.
Mas tudo tem um termo. Nada dura para sempre. O Evangelho, na sua sabedoria, consagra a lição de que há tempo para nascer e tempo para morrer. E o vendaval que sacudiu as estruturas morais da Nação tende a serenar. Uma pena que deixe rastros e dores em muitos e, principalmente, na alma cívica do brasileiro.
Lendo um dos ensaios do historiador e jornalista Tony Judd, que faleceu em 2010, encontro um trecho eloquente: “O medo é um ingrediente que vem ressurgindo na vida política das democracias modernas. Medo do terrorismo, é claro; mas também, e talvez mais insidiosamente, medo da velocidade incontrolável das mudanças, medo do desemprego, medo de perder espaço para outros numa disputa em meio a uma distribuição cada vez mais desigual de recursos, medo de que cada um perca o controle das circunstâncias e rotinas de sua vida diária”.
Viver com medo é morrer em vida. Deus nos livre do temor e nos dê coragem para enfrentar os próximos tempos, nada alvissareiros, nada promissores.
Resistamos à máquina de demolir nossa moral, pois vida sem moral não é digna de ser vivida.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 15/05/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail:imprensanalini@gmail.com.