É assim que Umberto Eco, o escritor italiano de 83 anos, autor de “O Nome da Rosa”, “Baudolino”, “História da Feiura”, “História da Beleza”, “O Cemitério de Praga” e “O Pêndulo de Foucault”, chama a mídia no seu último romance: “Número Zero”.
A partir de fatos reais, quais a atuação da operação “Mãos Limpas”, na década de 90, Umberto Eco tece uma crítica sobre o funcionamento de jornais, alguns dos quais criados para desinformar, difamar adversários, chantagear, manipular, elaborar dossiês e documentos secretos.
O livro é quase-ficção, porque entremeia episódios verídicos a uma fantasia caricata. Mas há muito de verdade no tema e em todo o globo. A mídia, em geral, se tornou mexeriqueira, explora o exótico, o folclórico, o ridículo. Dá espaço a tudo o que é mórbido, choca e machuca. Não deixa de noticiar ainda que sem apurar todo o contexto, não se preocupa com a mácula à honra dos atingidos.
As redes sociais multiplicaram a máquina de enlamear e produziram verdadeiros monstros. Insinua-se algo que pode desconstruir uma imagem e, a partir de então, aquilo é reiterado por outros veículos e sempre rememorado, não importa quanto tempo decorreu. Ainda que as acusações se mostrem falaciosas, à mera menção de um nome este já é associado ao escândalo.
Isso faz lembrar a penitência que São Felipe Nery aplicou a uma confitente que admitiu a maledicência. Pediu a ela que matasse uma galinha, depois percorresse toda a cidade, até seus limites, distribuindo ao vento as penas da ave. E depois voltasse. Quando ela retornou, dizendo já ter cumprido a primeira parte, ele mandou que ela recolhesse todas as penas. A mulher se apavorou: mas o vento levou, elas estão espalhadas. Como farei isso? Então veio a lição de moral: a fofoca se dissemina, ganha o mundo e nunca mais a honra vulnerada será recomposta.
Isso vale até hoje e de forma intensificada, pois as mídias virtuais não têm qualquer breque. Por isso é que o jornalista precisa ter uma ética muito singular. Mais que o diploma em Comunicações, consciência ética é seu instrumento de trabalho. Ética, o único remédio para um trabalho sério e justo, que não enlameie a honra das pessoas.