Marchas contra a Corrupção

Dia 21 de abril, feriado nacional em homenagem a Tiradentes, um símbolo da Inconfidência Mineira, que em 1792 acabou enforcado e esquartejado em praça pública, pelo establishment da época, esse ano foi marcado por manifestações populares, as Marchas contra a Corrupção, em algumas cidades do Brasil.

Evidentemente que a causa imediata, ou o estopim para essa mobilização atual é a abertura da nova temporada de escândalos no Congresso Nacional, protagonizada pelo Senador Demóstenes Torres, seu diretor espiritual, Carlinhos Cachoeira, e os demais fiéis de sua seita ideológica, em permanente ação de graças pelas benesses que a corrupção lhes tem presenteado, de longa data.

Todo fenômeno sociológico possui um substrato complexo de inúmeras variáveis, que dependendo da inter-relação dessas, no tempo e espaço, se cristalizam em fato. Encaixa-se aqui o Inconsciente Coletivo, conceito muito estudado, mas que escapa ao escopo desse texto.

Na história política do homem, muitas eclosões de revoltas, “basta ao status quo abusivo”, de governos sem critérios ou freios morais, não se concretizaram de imediato, ou na linguagem ingênua dos poderosos, são “abortados”. Porém, mesmo assim, as sementes fundamentais do inconformismo jamais são extintas, e germinarão, mais cedo ou mais tarde, quando as condições do solo socioeconômico e político forem propícias.

O combate à corrupção no país, também foi enforcado e esquartejado junto com Tiradentes, em inúmeras outras oportunidades, mas os ideais de Joaquim José da Silva Xavier, como sementes hibernadas, já manifestaram geminações em vários momentos de nossa história.

O “quase” Impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi um fato que exemplifica bem o poder de germinação de sementes adormecidas, quando a junção de diversas variáveis se agregam adequadamente.

O esfacelamento do comunismo mundial liderado pela antiga União Soviética, após a Guerra Fria, tendo como seu símbolo a épica Queda do Muro de Berlim, em 1989. A situação socioeconômica desesperadora nesses países e a retomada da consciência da força popular, com sangue ou sem, contagiaram o planeta, e aqui não foi diferente.

O Caçador de Marajás acreditou ser o ungido do Senhor, e resolveu repetir Jânio Quadros, e governar sem o Congresso Nacional. Resultado: escândalos de corrupção, revolta legislativa e no judiciário de alto escalão, caras pintadas, e fim! Sociologicamente houve perfeita inter-relação dos fatores.

No caso do Mensalão e os demais escândalos que coadjuvaram um cenário dantesco, no primeiro governo Lula, no início tudo apontava para um final terrível, porém, as variáveis, como o crescimento econômico e a consequente melhora da situação socioeconômica do povo, a satisfação do empresariado, e o carisma do presidente fizeram que os fatos, por mais graves que fossem, não abalassem a governabilidade.

O governo Lula saiu fortalecido e venceu fácil o segundo mandato, o capital externo entrou em massa no país, pela credibilidade demonstrada, o milagre econômico continuava e Lula passou a ser respeitado e condecorado internacionalmente.

Porém em 2008 veio a crise econômica mundial, liderada pelos Estados Unidos e Europa, parecia que permaneceríamos imunes a ela, mas lentamente começamos a sentir seus efeitos, principalmente em 2010/11.

Atualmente temos um fato novo no cenário mundial, os países muçulmanos do Oriente Médio, de forte regime totalitário, estão sofrendo uma onda de revoltas populares e desafio ao status quo, apesar da brutal e desproporcional repressão, o que não impediu que em alguns, como a Líbia e Egito, seus governos fossem derrubados. Completam a lista ainda a Síria, Iêmen, Bahrain Omã, Tunísia, Jordânia, Argélia e Marrocos.

Esse momento histórico é tão forte para a consciência popular internacional, principalmente para os jovens, que considero, a médio prazo, possa ter efeitos mais devastadores que a Queda do Muro de Berlim.

Pelo que temos observado, boa parte da classe política brasileira não se atentou ainda para esses fatos, e continua a praticar a velha sina da corrupção em seus cargos.

Porém, as variáveis no Brasil mudaram, a situação socioeconômica do povo começa a ter alguma alteração, como consequência natural da situação global, as sementes inconformistas com as práticas corruptas, começam a germinar novamente e pelo que se observa, de forma anafilática, ou seja, uma vez tendo contato com o agente alérgico no passado, um novo contato desencadeia uma reação desproporcionalmente maior e incontrolável.

É isso que parece estar causando o início das Marchas contra a Corrupção, e talvez seja somente a ponta do iceberg, que inflamarão e influenciarão ainda mais a CPI do Cachoeira e as demais que poderão advir. Não obstante os pedidos de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula optou por abrir um tambor de querosene próximo da fogueira, incentivando a CPI, talvez para dar o troco aos que tripudiaram no Mensalão.