A afirmação é de Nina Maluf, especialista em preparar cadáveres para cerimônias fúnebres. É responsável por uma escola, chamada Tanathology.
Ali ela faz cursos para quem precisa lidar com os aspectos imprescindíveis ao após-morte.
Ensina como realizar o primeiro contato com a família do morto, o preparo do corpo, a necromaquiagem, a reconstrução da face e a tanatopraxia, processo de conservação do corpo para velório e traslado. Sua função preferida é a reconstrução facial. Reconstituir a face destruída, para que a família possa abrir o caixão e, assim, realizar os ritos funerários. Sem luto, não se absorve a realidade da morte.
Nina tem quatro filhos e o assunto em sua casa é morte. A filha de seis anos todos os dias pergunta: – “Mãe, quantos corpos você fez hoje?”. O mais velho tem treze e a mãe aproveita os casos concretos para mostrar a ele os perigos da overdose ou do alcoolismo. O caçula de três anos brinca de enterro. Os irmãos no chão, ele os sepulta com travesseiros.
Ela procura mostrar a morte como algo normal, inerente à vida. Critica o preconceito contra a morte, que inclusive mente às crianças, evita mostrar os avós mortos para os netos, tergiversa-se falando em viagem e não se explica o súbito desaparecimento de pessoas queridas que, de repente, somem e não voltam mais!
A morte é algo que faz parte de nossa existência. A mais democrática das ocorrências. Não perdoa ninguém. Todos temos um encontro inevitável com ela. Foi o que procurei dizer no meu livro “Pronto Para Partir?”, que são reflexões jurídico-filosóficas sobre a morte.
A professora Nina Maluf encara com naturalidade o seu mister. Procura ensinar as pessoas a serem humanas diante dessa inevitável circunstância. Os familiares do morto estão fragilizados. Precisam encontrar quem os atenda com comiseração, com caridade e carinho.
Ela sabe que tentar recuperar o corpo de uma criança é devastador. Diz que criança saudável só morre por irresponsabilidade de adulto. Mas elas continuam morrendo. Assim como todas as pessoas, de todas as idades, de todos os níveis.
Por isso é que o setor é atraente: todos continuam a morrer, sem escolha. O mercado só tem crescido. E quem nele trabalha com amor, pode até terminar por dizer que a morte é sua amiga!
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 04/03/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail:imprensanalini@gmail.com.