Aquilo que Charles de Gaulle teria dito – “O Brasil não é um país sério!” – e que alguns afirmam não chegou a dizer, reflete um pensamento mais ou menos generalizado sobre esta República. Não em relação ao seu povo, generoso e acolhedor, paciente e resignado, pelo menos até o momento. Mas em relação aos seus governos. Isso não é exagero, considerado o número de projetos grandiosos que têm orçamento, início e, infelizmente, não têm o fim previsto.
O “The New York Times”, semanário internacional de 22 de abril deste ano, estampa reportagem que só pode constranger os bons brasileiros: “Brasil grandioso se desfaz”. Noticia que o Brasil injetou bilhões de dólares na construção de uma ferrovia que atravessa terras áridas. Não terminou a obra e hoje atrai ladrões de metal. Prédios curvilíneos projetados por Niemeyer foram abandonados logo após a construção. Um museu de extraterrestres, criado com verbas federais em Varginha, parece um navio perdido em meio a ervas daninhas.
Nosso país acumula uma lista de atrasos nos projetos faraônicos, resultantes do ufanismo que ataca certos pretensiosos detentores de um frágil e transitório poder. Mas o Brasil vive uma ressaca, na qual se escancara a burocracia paralisante, a alocação irresponsável de recursos e bastiões de corrupção.
Gil Castelo Branco, diretor da ONG – Contas Abertas, não tem receio em declarar: “Os fiascos se multiplicam e revelam uma desordem que, lamentavelmente, é sistêmica”. Recursos imensos são desperdiçados em projetos extravagantes enquanto as escolas públicas são péssimas e falta saneamento básico para quase todos.
São milhares as obras paralisadas em todo o país. Exemplifica-se com rede de canais de concreto de US$ 3,4 bilhões no sertão nordestino, assolado pela seca, cuja conclusão fora prevista para 2010. Dezenas de novos parques eólicos continuam inativos diante da falta de linhas de transmissão. Hotéis de luxo inacabados estragam a paisagem da Cidade Maravilhosa.
Neste rol não estão incluídos os projetos faraônicos não iniciados: a revitalização do Centro Paulistano, a construção de torres majestosas para o Judiciário e tantos outros sonhos que viraram pesadelo numa economia em derrocada.