Não é prepotência

A tendência a sobrepujar o próximo parece instintiva no ser humano. Mesmo crianças querem impor sua vontade às demais. Assumem, nas brincadeiras, o papel que consideram mais importante. Sabem ou são treinadas a detectar aquilo que é subalterno e fogem disso. Essa condição é levada ao convívio nas escolas, onde há sempre os “valentões” que atormentam os mais fracos. Desde a agressão física até à mais dolorida: a agressão moral.

O tema “bullying” é recente, mas a situação de angústia infligida a quem é tímido, ou gordo, ou afeminado, sempre existiu. Seria rito de passagem inevitável? Aparentemente não. Os Estados Unidos constataram que a criança atormentada se torna um adulto atormentado. No livro “The Bully Society”, (A Sociedade prepotente, em tradução livre), de Jessie Klein, noticia-se que 71% dos que praticaram tiroteios nas escolas tinham sido vítimas do “bullying”. O autor acusa a cultura hipermasculina de incrementar a prepotência. “Em lugar do leque de emoções ao alcance das meninas, os meninos só têm permissão para sentir raiva e são incentivados a controlar os outros sentimentos”. Quem já não ouviu a advertência: “Homem não chora”?

Todavia, as mulheres assumem essa cultura máscula e se tornam prepotentes também. A crônica do assédio moral no trabalho não distingue entre os chefes e as chefes quanto à pressão exercida sobre subalternos que se tornam bodes expiatórios. O “bullying” da criança mimada, de pais que não conseguem ou não querem por freios, que acham bonito o filho que não apanha, “só bate”, produz um ambiente perigoso. Há problemas de saúde, há suicídios, há uma tristeza que os perseguidos não conseguem ocultar.

Uma sociedade sadia não pode tolerar tais condutas. Existe muita leniência e preconceito, pois em regra, os diretores de escola, os responsáveis pelos locais onde a humilhação – clubes, fábricas, parques, shoppings, enfim, todos os lugares onde existe concentração de pessoas – tendem a partilhar do sentimento de exclusão. Começam a culpar a vítima de ser “diferente”, de atrair a ira gratuita dos “normais”.

Ainda falta muito para que o Brasil chegue ao patamar da Nova Zelândia, por exemplo, onde existem leis contra a agressividade no local de trabalho e, melhor ainda, essas leis são observadas.