Nefasta monocultura

Em visita a inúmeras comarcas do interior, tenho testemunhado a tragédia da monocultura. Região próspera e de tradicionais minifúndios, a circunvizinha a Ribeirão Preto está a padecer desse flagelo. Em contato com o prefeito de uma das mais tradicionais cidades, cujo nome omito para evitar a patrulha que poderia vir a sofrer, dele obtive um relato estarrecedor.

O município era uma família. Todos praticamente se conheciam. A maior parte possuía pequenas propriedades quase verdadeiras autarquias. Tinham um pequeno gado, para o consumo de leite e fabricação de manteiga e queijo. Um bom galinheiro, fornecedor de ovos e de frango caipira. Um bom pomar, uma horta, quase tudo o que era necessário para uma vida próspera e decente.

De repente, vêm os canaviais. Os sitiantes arrendam suas terras e ficam à mercê do preço imposto pelo agronegócio. Aos poucos, dilapidam seu patrimônio. Vendem o pouco que resta de seu patrimônio, os sítios são deformados e cedem espaço integral ao “verde mar do progresso”.

Muitos partem para as periferias da metrópole. Adeus vida campestre. Adeus zona rural. Agora é sofrer na insensatez desumana dos grandes centros.

Em compensação, os trabalhadores rurais importados de outras regiões trazem endemias, hábitos estranhos à pequena comunidade, o uso do crack. Infelizmente, e isso é notório, a droga já contaminou a juventude do campo e deixa as sequelas conhecidas.

O vício é de mais fácil disseminação do que a virtude. Adolescentes engravidam de dependentes sem raiz e sem família. Esse é o preço do “progresso” para quem trocou a policultura pela cana-de-açúcar. Sabor amargo daquilo existe exatamente para produzir a doçura. Efeito perverso de opções tomadas pelo interesse econômico, que desconhece outros critérios.

Incrível como a humanidade avança em ciência, conhecimento e tecnologia e continua a tatear em ética e sabedoria.

O mundo nasceu exuberante e com plúrima e bilionária biodiversidade. O homem teima em padronizar aquilo que cresce sobre o solo, sem aprender com os incessantes e cada vez mais audíveis protestos do Planeta. Ficamos cegos, surdos e, infelizmente, cada vez mais ignorantes.