O ninho da discórdia

O mundo parece envolvido em conflitos permanentes. Lutas fratricidas, terrorismo fundamentalista, execuções transmitidas on line, crueldade em todos os espaços. O Brasil não escapa à regra. Violência em várias escalas. Sensação de insegurança que gera o clamor pela intensificação do sistema punitivo.

Ninguém consegue aceitar que a prática de infrações também se faça acompanhar de um requinte de perversidade. Quantos relatos de vítimas que não reagem, colocam à disposição do infrator os bens materiais cobiçados e, mesmo assim, colhem a tragédia de uma morte desnecessária à consumação do delito. O convívio sofre uma deletéria corrosão. A solidariedade não prevalece e o sentimento natural de comunhão é substituído por explicável temor.

É mais do que urgente que a confraria do bem reaja à altura do desafio. A começar em cada lar. O ninho protetor em todas as fases da existência sofreu e continua a sofrer profundas mutações. O espaço doméstico também registra o desamor. Insensibilidade, indiferença, egoísmo exacerbado. Desrespeito e deboche. Desconsideração quanto a valores tradicionais e abandonados ante a convicção de que já foram superados.

A paz deve começar em casa. É ali que deveria preponderar o amor incondicional, espontâneo e gratuito. Mães e pais são transmissores da singela lição de que todos estamos na mesma frágil e efêmera condição humana. Viver é uma ventura e preservar a vida um milagre que se renova a cada dia. Respeitar a vida é mais do que se abster de matar quem nos atormenta. É reconhecer que o mero fato de pertencer à espécie humana acarreta direitos e obrigações. A dignidade da pessoa é mandamento inquestionável. Dignidade que se inicia pela consideração dos mais próximos, pelo olhar compassivo, pela compreensão de nossas deficiências. Pela capacidade de perdoar. A casa é o refúgio do amor e não pode converter-se em ninho de discórdia.