OS MENSALEIROS

O “mensalão” é o maior escândalo contemporâneo da República.
Encostados na parede, espremidos e paralisados pelos intensos jatos de lama
contra eles esguichados, eis que de repente, eles vão escapando do cerco
moral e do que lhes restava de vergonha na cara. Com a desfaçatez dos que
aprenderam a afanar até pirulito, se permitem apropriar-se do verso do
famoso samba “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Só que nesse
caso, essa volta não é por cima porque não significa um honesto retorno. Ao
contrário, trata-se de uma volta bem por baixo, pelas regiões subterrâneas
do esgoto, dos falsos números e, sobretudo, das tenebrosas transações
eleitorais, com o objetivo exclusivo de continuar mantendo para usufruto
próprio a máquina do poder. Eles investem no cansaço do povo. Cansaço das
informações sobre tantas e tamanhas bandalheiras, cansaço de assistir ao
vivo e em cores um desfilar interminável de degradação pública, cansaço do
cinismo, cansaço dos acordos escrotos entre governo e oposição tão bem preparados pelos pizzaiolos de plantão. Eles investem na ignorância do povo,
acostumado às mudanças de enredo das novelas, quando tudo fica mais
divertido e atraente com bandidos virando mocinhos e invertem o resultado da
história. E desse jeito eles criam novas esperanças e de novo enganam o
povo. Eles investem no boicote de informações de instituições comprometidas
e no corporativismo interno de departamentos governamentais e de empresas
estatais, que deram abrigo às mais escabrosas maracutaias perpetradas com o
dinheiro suado dos contribuintes. Eles apostam decisivamente na destruição
de valores, no desprezo pelo esforço do aprendizado, na desvalorização
sistemática do conhecimento, na arrogância da ignorância. Eles acham, no
fundo, que podem obter o máximo com o meio preparo, o meio-crescimento
econômico, o meio-raciocínio e, quando muito, a meia-honestidade. Eles
apostam na meia-boca, no tapa-buraco, na gambiarra, no discurso do “como se
fosse”. Eles apostam naqueles que desejam escolher o mais flexível, o mais
cordato à submissão de interesses, de outro lado, aqueles que pretendem
escolher quem tenha idéias próprias de estadista, que buscam o patrimônio
cultural e moral das futuras gerações. Eles investem, antes de tudo, no
esquecimento e na impunidade. Não foi para nenhum projeto “ideológico”, não
foram para nenhuma utopia político-doutrinária, para nenhum “paraíso” social
engendrado pelas arrebatadas teorias do século 19, mas sim para simplesmente
usufruir. Usufruir bens menores, confortos medíocres, status consumista sem
maiores imaginações. Eles roubaram, enfim, para ser medíocres. O povo tem a
urna eleitoral como aliada. Respondamos renovando os ares políticos. *
Carlos Henrique Pellegrini é professor universitário e Diretor de Gestão
e Sucessão Empresarial da Maxirecur Consulting,
<mailto:pellegrini@maxirecur.com.br> pellegrini@maxirecur.com.br