A política tem salvação

O francês Saint-Just, político e revolucionário, afirmou: “Todas as artes produziram suas maravilhas; somente a arte de governar produziu monstros”. Terá sido exagero? Excesso de pessimismo?

Aparentemente ele não deixou de ter razão. Assista-se ao programa eleitoral e ver-se-á que ali estão sobrando atentados ao vernáculo, à sensatez e, sobretudo, ao bom gosto. É um festival que poderia ser mais pedagógico.

Infelizmente, tudo o que pretendesse adequar o conteúdo da mensagem a um padrão ético, afinado com a estética, seria considerado censura. E o politicamente correto, levado ao paroxismo, produz apenas mediocridades.

Nenhum país tem mais de 30 ideologias de perfil suficientemente autônomo para gerar correspondentes partidos políticos. A mesmice nos estatutos, a falta de singularidade entre eles evidencia que muitas agremiações mais desservem à democracia do que a aperfeiçoam. Basta ver as coligações, algumas das quais frustram os esperançosos e constrangem seus quadros, que sequer mencionam o nome daqueles que estão no mesmo barco. Uma verdadeira e metafórica “Arca de Noé”.

Entretanto, a política é essencial, imprescindível, sem ela não se vive. Praticamente tudo o que o ser humano realiza é político. O grande pensador Edgar Morin, que mesmo idoso sempre encontra tempo para retornar ao Brasil, já afirmara em 1958:

A política é a mais bárbara de todas as artes. A justiça penal já é muito bárbara, mas não pude com a morte senão por crimes cometidos. A política é mais bárbara ainda: ela pode matar por um perigo impreciso, por uma presunção. É necessário muito pouco para que a arte política se degrade em carnificina. Mas por mais repugnante que ela seja, pela purulência e o sangue, pelo pus amarelado da imbecilidade, ela constitui, igualmente, a grande arte. A profunda arte política que joga com nossas vidas, em um jogo necessário e atento, exige dos artistas uma paciência e uma intransigência prodigiosas, de uma bondade infinita”.

São pensamentos oportunos neste momento. Para indagar por que alguns bons políticos desistem de concorrer, enquanto outros deveriam ser proibidos de disputar qualquer cargo.

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