Poupatempo fúnebre

Todos temos de morrer. Inevitável. Por isso a ojeriza de quase todos ao pensar na morte. Ela é ocultada, escondida, não se pode falar nela. Mas talvez fosse melhor encará-la. É o que faz o Marquinhos da Funerária, hoje Presidente da Câmara da Estância de Itu. Sua história de vida é comovente. Chegou a Itu sem conhecer qualquer pessoa. Seu pequeno filho Igor faleceu e teve de ser enterrado diretamente na terra. Não havia dinheiro para adquirir um caixão. A provação o fez comprometer-se a trabalhar para que ninguém mais passasse por tristeza tal. Cuidou primeiro do cemitério daquela heráldica cidade, berço da convenção republicana. Elegeu-se vereador. Interessou-se pela modernização do serviço funerário.

Agora realizou o seu sonho. Inaugurou um velório, que tem o nome de seu filho, Igor Viana Rocha e que é um exemplo para todas as demais cidades. Nove salas climatizadas, ambiente agradável, as famílias tratadas com dignidade. Espaço para crianças, fraldário, sala de repouso enquanto o Serviço de Verificação de Óbito realiza a sua tarefa. Tudo foi pensado para amenizar o momento mais triste daqueles que têm de se despedir de um ser querido. E isso é muito sério. Infelizmente, vivemos no mundo da burocracia, em que nem sempre contamos com tratamento humanizado, mesmo nas piores horas a serem enfrentadas.

Já ouvi inúmeras queixas da demora, da rispidez, da complexidade, da dificuldade encontrada por aqueles que precisam sepultar seus mortos. Itu dá um exemplo a todo o Brasil de como cuidar daqueles que precisam de um sepultamento. Por acréscimo, em Itu o enterro pode se realizar a qualquer hora, de acordo com a preferência e necessidade dos familiares. Há cerimônias especiais no Dia das Mães, no Dia dos Pais e no dia de Finados. Neste dia, um helicóptero esparrama pétalas de rosa por toda a necrópole. Da tragédia que o abateu, Marquinhos da Funerária extraiu uma significativa missão: amenizar o dia mais triste na vida daqueles que se separam dos que não poderiam nos deixar.