Dom Pedro Casaldáliga é bispo emérito de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, e inimigo declarado daqueles que pretendem acabar com o remanescente indígena do Brasil. Sua história é a da insegurança que persegue aqueles que se opõem a uma só e reducionista visão de desenvolvimento.
Além dele, outras lideranças indígenas e agentes da pastoral estão ameaçados desde que o Incra iniciou o processo de desintrusão da área hoje chamada Gleba Suiá Missu. Essa área está situada entre os municípios de São Félix do Araguaia, Alto Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia. Estudos antropológicos comprovam que o povo Xavante ocupava o território muito antes dos primeiros não índios lá chegarem.
Em 1966 os índios foram levados em aviões da FAB para 400 quilômetros além. Dois terços da população indígena foram dizimados por sarampo. Em 1980, as terras foram adquiridas pela petrolífera italiana Agip Petróleo, que veio a ser internacionalmente pressionada a devolver o território a seus donos. Em 1992, durante a Eco do Rio, a empresa se comprometeu a devolvê-lo.
Mas os grandes fazendeiros se opuseram. Pressionado pela comunidade internacional, o Governo Brasileiro em 1998 reconheceu a propriedade legítima do povo indígena, o que restou registrado em cartório. Mas só em 2010 é que a Justiça Federal determinou, em decisão unânime, a saída dos não-índios dessas terras.
Durante todo o tempo dessa epopeia, D. Pedro Casaldáliga permaneceu ao lado dos índios. Mas sofreu as consequências disso. É um candidato a se tornar outro Chico Mendes, ou irmã Dorothy Stang, ambos assassinados pela cupidez de quem quer mais terras do que consegue administrar. Quando o Brasil foi descoberto, inúmeras nações indígenas aqui estavam e o território não havia sido dizimado como hoje, inteiramente descaracterizado, a mata destruída, a água poluída, a atmosfera conspurcada.
Quase todas as etnias desapareceram. Restam poucos índios, como os guarani kaiowás, os pataxós, os tupinambás, os tembés. Menor ainda o número de quem se atreve a defendê-los. A maior parte dissemina as versões de que o índio quer motosserra, vende minérios para estrangeiros, fala inglês. Quase ninguém, como D. Pedro Casaldáliga, tem coragem de reconhecer que não se está entregando terra ao índio. É mera devolução do território ao seu dono.