PROGRESSO X PRESERVAÇÃO

Se há algo que caracteriza o século 20 – além de duas guerras mundiais de
proporções inéditas na História da humanidade – é o fim dos impérios
coloniais e o surgimento das nações “emergentes” com vibrantes economias,
como a Coréia do Sul, Taiwan, China, Índia e até o Brasil em alguns
períodos. Economias vibrantes significam mais “progresso”, empregos,
melhores salários e as amenidades que o dinheiro pode comprar. Apesar de
centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo continuarem abaixo da linha
da pobreza, outras centenas de milhões progrediram, sob muitos pontos de
vista, no último século. Este progresso tem um custo ambiental, porque a
medida que o consumo aumenta, é preciso ampliar a área dedicada à
agricultura, construir novas indústrias, estradas e outros meios de
comunicação. É impossível ter isso tudo sem interferir no meio ambiente em
que vivemos. O melhor exemplo disso é a própria construção de cidades, que
caracteriza a evolução da humanidade há mais de 10 mil anos. Cidades não
planejadas – que são a grande maioria – acabam por destruir toda a vegetação
existente anteriormente, dando lugar a casas e ruas e poluindo os cursos
d’água, que são usados como esgoto. Medidas corretivas podem atenuar estes
problemas, mas é evidente que a própria existência de grandes cidades tem um
grande impacto ambiental, que ás vezes se agrava de tal forma que põe em
risco a própria saúde e o conforto dos que nelas vivem. Há, contudo,
ativistas ambientais que sonham com um passado bucólico e se opõem
freqüentemente a estas obras, usando argumentos de natureza
fundamentalista.Em alguns casos os custos de fazê-lo são astronômicos e
tornam inviáveis soluções mais pragmáticas. O denuncismo sistemático e a
paixão com que esses ativistas abordam algumas destas atividades
caracterizam o movimento ambientalista na década de 1970, sobretudo nos
Estados Unidos, onde ele amadureceu e se tornou mais construtivo. O problema
hoje, para eles, não é apenas denunciar, mas propor soluções. Com algumas
décadas de atraso, estamos passando pelo mesmo processo em São Paulo. O
trecho sul do Rodoanel é uma grande obra em andamento que ficou cinco anos
na fila do licenciamento ambiental, após inúmeras audiências públicas e
acordos judiciais com o Ministério Público Estadual e o Federal. É claro que
a construção do Rodoanel vai ter impactos ambientais. Estes custos
ambientais têm que ser comparados com os custos que estamos pagando por não
fazer a obra, em termos de saúde da população, perda de horas de trabalho de
milhões de pessoas e outras perdas devidas a congestionamento. Além disso,
tais impactos serão compensados, a um alto custo, pelos empreendedores, com
a criação de novas áreas protegidas, parques e benefícios às populações
indígenas afetadas.