Promiscuidade nefasta

O verdadeiro poder não reside naquela tríplice divisão que Aristóteles já intuía, mas que Montesquieu consagrou nas funções legislativa, executiva e judiciária. O verdadeiro poder está no dinheiro. Ele é a mola mestra do planeta. Razão para Bob Fosse que, em “Cabaret”, o belo filme em que Lisa Minelli brilhou, cantava “money makes the world go around”. O dinheiro faz, efetivamente, com que o mundo siga adiante.

Por dinheiro se mata, se casa, se trai, se vende. O dinheiro se esquece da honra, da moral, do catecismo. É irônico ainda se ensine nas Faculdades de Direito a Teoria Geral do Estado e se ratifique a lição de que a soberania é onipotente e seja titularizada pelo povo. O povo é, realmente, o dono da soberania? Ou aqueles que se elegem como representantes dele têm outras metas em vista?

A aliança entre o dinheiro e a política é um fato inequívoco em todo o planeta. É assim nos Estados Unidos, que o digam os filmes Sob a Névoa da Guerra, de Errol Morris e Serviço Interno, de Charles Ferguson. Eles mostram o pacto consumado entre mercado financeiro e governo. E não é diferente no Brasil. Um instigante artigo de Tales Ab´Sáber, psicanalista e professor da Universidade Federal de São Paulo, autor de Lulismo, Carisma Pop e Cultura Anticrítica (Hedra,2011), mostra bem isso.

Em “Homens de mercado, homens de Estado” (OESP, 3.6.2012, p.J5), ele diz que a promiscuidade entre público, privado e contravenção “não deixa de ser um campo de trabalho muito rico para o famoso deixa-disso de advogados e de juízes brasileiros, alguns deles promotores eméritos da proverbial impunidade de senhores e de endinheirados por estas bandas”.

Mais adiante: “os advogados e juízes representam os direitos inalienáveis dos cidadãos e nos dão garantias de que estamos em um verdadeiro Estado de Direito e não em uma imensa farsa política da imagem e da manipulação espetacular da vida cidadã entre nós”. Quando é que terminará – se é que um dia isso terá fim – a nefasta promiscuidade entre dinheiro e política, para reabilitar a crença nas instituições, tão comprometida nestes tempos tristes?