Para o filósofo David Livingstone Smith, diretor do Instituto de Ciência Cognitiva e Psicologia Evolutiva da Universidade de New England, nos Estados Unidos, o ser humano é naturalmente mentiroso. Quem disser que não mente é mentiroso.
Escreveu o livro “Por que Mentimos. Os Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira” (Editora Campus/Elsevier) e sustenta que somos programados para enganar desde os primórdios da humanidade. A franqueza só faz inimigos. Quando se anuncia que dentro em breve a telepatia estará ao alcance de todos, cada qual podendo ler o pensamento do próximo, está-se também dizendo que haverá muita encrenca.
Já pensou detectar aquilo que pensam de nós e não têm coragem de dizer na cara? É claro que o julgamento moral condena a mentira e ninguém quer se assumir mentiroso. Há quem justifique as “mentiras inocentes”, de alegar compromisso para deixar de aceitar um convite, as desculpas do trânsito, até as “mortes” fabricadas de parentes imaginários que servem de motivo de escusa para uma falha imperdoável.
Para Smith, a mentira traz vantagens indiscutíveis. Os bons mentirosos são populares e bem-sucedidos. A mentira é o pilar das relações sociais. Os pais ensinam os filhos a mentir. A não criticar as pessoas, a agradecer o presente, mesmo que não goste dele, a não dizer que alguém é feio. Pode-se chamar isso de “boas maneiras”, mas não deixa de ser mentira.
O mentiroso é também mais inteligente. Fala aquilo que as pessoas querem ouvir. A melhor mentira é aquela contada por quem acredita no que está dizendo. De tanto mentir, a mentira se converte numa versão de verdade. Não é novidade, como diz Smith, que “políticos são mentirosos profissionais. Eles mentem habilmente e, na maioria das vezes, têm consciência disso. O que eles fazem é captar com precisão os anseios do eleitorado. Eles não estão preocupados se vão conseguir fazer o que prometem ou não. O político mente para se dar bem. Quando ele acredita na própria mentira, seu poder de persuasão se torna infinitamente maior”. Por isso, não é de se estranhar que, mesmo diante de provas contundentes e eloquentes, o “malfeitor” sempre negue. Está sendo humano. Naturalmente humano.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 23/01/2016
JOSÉ RENATO NALINI é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.