R$ 51 MILHÕES EM ESPÉCIE

A Polícia Federal encontrou as impressões digitais do ex-ministro Geddel
Vieira Lima, no apartamento, no bairro da Graça em Salvador, onde na semana
passada foram encontrados R$ 51 milhões em espécie. A quantia é a maior
apreensão em dinheiro vivo já feito pela PF. As impressões digitais reforçam
a ligação do ex-ministro com o dinheiro, comprovando que ele esteve no
imóvel onde a quantia milionária estava guardada. A quantia foi localizada
em uma ação de busca e apreensão na Operação Tesouro Perdido, um
desdobramento da Operação Cui Bono, sobre investigações de fraudes na
liberação de créditos da Caixa Econômica Federal. O Brasil atolou numa crise
ética sem precedentes e a quantidade de políticos implicados em
investigações ou processos criminais perfaz sua maioria, onde a Praça dos
Três Poderes virou banco dos réus. A escassez de probidade não é um traço
genético que distingue os políticos profissionais de outros seres humanos. A
crise brasileira que conjuga um desmoronamento ético, um sufoco econômico e
um esgotamento das formas atuais da nossa democracia representativa, com a
deterioração acelerada da legitimidade das instituições, dos partidos e dos
agentes do poder. De quebra, há uma probabilidade crescente de assistirmos à
desmoralização do Poder Judiciário, seja de fora para dentro, pela
frustração das massas que esperam um “justiçamento” exemplar dos corruptos,
o que a Justiça não pode entregar, pois não pode funcionar como falange
vingadora e redentora, seja de dentro para fora, o que viria como resultado
de excessos ou abusos praticados pelos próprios juízes, movidos pela
intenção, consciente ou inconsciente, de “jogar para a torcida”. A corrupção
não é o maior problema do Brasil, não é a fonte da crise, é apenas parte
dela. Com a mesma promessa de “varrer a corrupção” e “restaurar a
moralidade”, alguns personagens e parte da população tornaram-se apoiadores
de primeira hora do golpe militar de 1964… E deu no que deu. Um programa
para superar o atoleiro ético brasileiro deve contemplar não apenas o
combate à corrupção, acima disso, deve buscar novos marcos legais que
prestigiem a concorrência leal e criem condições para que os negócios
lícitos venham a ser – pois ainda não são – mais compensadores que os
ilícitos. Ser empresário ou empregado no Brasil é “padecer no paraíso”. O
governo é o sócio que não colabora e cobra caro sua parte. Será que isso é
pedir demais?