A receita da presidenta

Quase sempre calada, visando blindagem em relação ao “Mensalão”, nos primeiros momentos do encarceramento de alguns de seus correligionários finalmente “injustiçados”, Dilma Rousseff se pronunciou, timida e publicamente, referindo-se ao aspecto ‘humanitário” que deve nortear toda e qualquer ação prisional, embora estivesse vendo – como todos nós – os privilégios daquele grupo carente de tratamento especial.

Surfista sem prancha, experiente e bem assessorada, agora critica as regalias, dizendo que errou a rapaziada que foi – abandada, como soem ser os ratos – indutores e induzidos, checar de perto se a companheirada aloprada trancafiada estava confortável e com serviço vip…

Achou que era hora, porque a esperada onda ideal está transbordando do confinamento da Papuda, chegando aos 600 mil meliantes comuns presos no Brasil, crescendo ao passar pelos parentes revoltados tentando pegar senha, e se tornando um tsunami insurfável com o incômodo cada vez mais ruidoso de milhões de cidadãos brasileiros que teimam em ficar do lado de fora, no mundão legal.

E a nossa general segue dando a receita – porque estava lá! – de como se dar bem na prisão…

Errou também, e de novo, eis que melhor faria se lembrasse que agora está no lado de fora e passasse a dar conselhos – e concessões! – àquela teimosa e imensa massa de compatriotas decentes, de cuja esperança foi, ingenuamente, eleita fiel depositária!

Ganharia minha adesão – e até minha admiração! – se dirigisse seus ensinamentos a estes incautos que somos; se nos mostrasse, convincente, que tem havido, de fato, alguma melhoria na vida comum deste bando imenso de crédulos perseverantes, pra quem deveria governar.

Até porque consta nos anais de sua trajetória – mais um exemplo típico de males que vêm pra bem! – de autoalegada grandeza altruísta e patriótica, que aqueles dias de cadeia decorrem de assaltos a bancos, roubos e sequestros, embora tenham mais a ver com república de estudantes do que com os criminosos comuns que, contrariando as leis da física, ocupam o mesmo lugar no espaço torturante e crime-indutor das prisões inumanas sob a sua nobre batuta.

A sua estadia na chamada Torre das Donzelas, construção mais alta localizada no centro do antigo presídio Tiradentes, em São Paulo – onde passou quase 3 anos, entre 1970 e 1974 – transcorreu longe do contato dos cubículos que alojavam as demais detentas, as famigeradas “corrós”. 

As companheiras de cela, quando não já amigas de véspera, eram estudantes universitárias com mode de vie e concepções semelhantes.

Gente mais fácil de conviver do que o Bandido da Luz Vermelha, por exemplo.

As celas eram abertas e o espaço co-habitado era bem maior do que suíte presidencial de hotel duas estrelas na região dos bordéis na Estação da Luz, até hoje frequentado pelo seu povo livre.

E ainda contavam com uma cozinha, onde preparavam suas próprias refeições, cuja qualidade era ainda mais garantida com os ingredientes trazidos pelos familiares nas visitas sem senha.

O serviço só perdia para o dos prisioneiros do PT de agora…

Havia, sim, as torturas abomináveis aplicadas por alucinados em dependências do exército, com a desculpa de obter informações, tão execráveis quanto aquelas que ainda acontecem nas delegacias e outras dependências que abrigam mocinhos e bandidos, mas exacerbar – e praticar enganação – em benefício próprio não me parece correto.

Os fatos também revelam que Dilma, embora sempre tenha negado qualquer participação mais direta naquelas ações violentas dos grupos de guerrilha no final da década de 60 e no começo da de 70 – ah, a nossa amnésia e o desprezo aos fatos, tão brasileiros quanto o coquetéis Cuba Libre e Molotov de então – se não estivesse armada, num botequim de São Paulo, onde foi detida, muito provavelmente continuaria incógnita e vagando na burguesice bandida e arrogante – e no anonimato – até hoje.

Só não conseguiu porque no caminho havia o cérebro politico do eleitor tupiniquim.

E pensar que hoje em dia, sob seu generalato, portar arma ilegalmente de dois a quatro anos de cadeia num daqueles cubículos das temidas corrós do seu tempo…

Aquela Torre das Donzelas, onde se deu o calvário da nossa ilustre mártir e conselheira de parceiros de prisão, parece ter sido, como a chamavam os próprios selvagens torturadores, mais um paraíso quando comparado ao sufoco do Steve McQueen na masmorra de Papillon, analogia a que somos levados quando ouvimos alguma vítima da ditadura, como ela, contar como foi a sua vida de santa naquele tempo medieval.

Tal epopeia lembra mais o serviço militar obrigatório do meu tempo – por coincidência, o mesmo! – especialmente o chamado período de adaptação de 30 dias, em que só voltávamos pra casa nos finais de semana.

E a gente, soldado encarcerado aos dezoito anos, tomava banho frio, comia o que o rancho oferecia e nem sabia que terrorista existia!

E tinha gente que engajava pra ficar nesse paraíso, porque lá fora, para muitos brasileiros, a vida era tão difícil – a não ser que virassem assaltantes de bancos! – como sempre tem sido…