O reino da imaturidade

A falência no processo educacional conduz a criança, um ser inteligente, criativo e suscetível de se transformar num adulto responsável, a se converter num eterno infante. A humanidade adulta está em via de extinção, em proveito do reino generalizado da imaturidade. A regra é o consumo, a igualdade, a fruição de direitos sem compromisso com sua conquista.

Tudo é exigível, tudo é obrigação do Estado e o indivíduo é o ser voraz, que nasceu com a integralidade de direitos que não o saciam, pois a insatisfação é permanente. A Democracia contemporânea se embriagou de consumo. Consome-se como expressão de liberdade. Daí o desespero dos que não conseguem frear o uso da droga.

A liberdade significa a possibilidade de se envenenar, de usufruir de todas as sensações, sem freios, sem constrangimentos, sem reservas. Confundem-se o ideal democrático e o ideal do consumo, em que mesmo as pessoas são sujeitos e objetos simultaneamente. Prover o ser humano de bens tornou-se uma paranoia. Nesse sentido, a democracia é o estado da desmedida, do exagero de direitos.

Isso já fora detectado por Platão que faz duas críticas à democracia. Primeiro, ela é o reino da lei abstrata, que pretende valer para todos os casos. A lei seria uma receita deixada por um médico prestes a viajar e deixa o receituário assinado, a servir para qualquer doença, dor ou desconforto que o paciente vier a sentir durante sua ausência. A universalidade da lei é uma aparência enganosa.

A segunda crítica é a de que a Democracia passa a ser uma feira de constituições, uma feira-livre em que todos fazem o que querem. Na leitura de Jacques Rancière, no seu instigante livro “Ódio à Democracia”, este nosso ideal é um absurdo lógico:

A democracia é propriamente a inversão de todas as relações que estruturam a sociedade humana: os governantes parecem governados e os governados, governantes; as mulheres são iguais aos homens; o pai se habitua a tratar o filho de igual para igual; o meteco e o estrangeiro tornam-se iguais ao cidadão;
O professor tema e bajula alunos que, de sua parte, zombam dele; os jovens se igualam aos velhos e os velhos imitam os jovens; os próprios animais são livres e os cavalos e os burros, conscientes de sua liberdade e dignidade, atropelam aqueles que não lhes dão passagem na rua“.

Qualquer semelhança com a República Federativa do Brasil não é mera coincidência.