Ricardo Feres Abumrad

Quando eu tinha mãe, até 17 de novembro de 2005, ela me avisava das mortes das pessoas queridas. Depois que ela partiu, nem sempre fico sabendo dessas partidas. E uma perda que lamento é a do meu amigo Ricardo Feres Abumrad. Conheci-o desde sempre. Estudamos na mesma Escola Paroquial “Francisco Telles”. Depois, por um tempo, ele estudou no Divino Salvador. Era esportista, atleta de várias modalidades.

Quantas vezes me apanhava com seu “Vemaguet” para remarmos no Clube de Campo. Seus pais, D. Ziza e Sr. Adib, eram comerciantes na rua do Rosário. Houve tempo em que eu não saía de sua casa. O irmão mais novo, Eduardo Janho Abumrad, é hoje um festejado cantor lírico. Havia também a “Ção”, que atendia a todas as vontades da dupla, a começar pelas delícias árabes, superiores a qualquer cinco estrelas.

Fomos companheiros de adolescência e de juventude. Turma coesa, da qual já fomos desfalcados do Giba (Gilberto Fraga de Novaes), Delega (Antonio Edmundo Fraga de Novaes), Roblido (Roberto Dias Inglês de Souza), Flavinho (Flávio Della Serra), Melinho (Antonio Carlos Oliveira Melo), Mano (Eduardo Souza Filho) e tantos outros. E outras, como Lolô (Heloísa Del Nero Bisquolo), Bidu (Lucia Helena Copelli Franzini), Sarita (Sarita Rodrigues de Oliveira Nunes Leal), Lucinha (Lúcia D´Egmont) todas chamadas mais cedo, muito precocemente, à eternidade.

Era o tempo do Clube Jundiaiense e suas “brincadeiras dançantes”. Os shows “Pobre Menina Rica” e outros. As serenatas. Os conjuntos formados por aqueles mais providos de talento musical. Ricardo, o “Rica-boy”, arranhava bem um violão. A vida de cada qual separa o convívio diuturno.  O trabalho, o casamento, os compromissos fazem com que as ausências físicas surjam e se prolonguem. Mas a cada reencontro, era como se nunca tivéssemos deixado de nos ver.

Acompanhei sua enfermidade, paradoxal para um homem que sempre cuidou do físico. Fui várias vezes à sua casa, inclusive aniversários. Prefaciei um livro de poesia. Vi que o depauperamento não o enfraquecia intelectualmente. Conviveu com Hilda Hilst, que o adorava. Ouvi o testemunho dela, grande amiga de minha querida Lygia Fagundes Telles. Ricardo, grande Rica, violonista, poeta e amigo. Nem acredito que ele se foi. E com ele, boa parte de minha infância, da minha adolescência e da alegria que elas significaram.