RIOS VOADORES

Aos incrédulos, a inusitada informação. Cientistas, como o meteorologista Pedro Dias, da USP, estimam que, na estação chuvosa, até 70% da precipitação caída em São Paulo depende do vapor d’água gerado na Amazônia. Uma árvore adulta expele até 300 litros de água por dia. Quer dizer, se acabar a floresta lá, pára de chover aqui. O fenômeno vem sendo estudado, há cerca de 30 anos, pelo professor Enéas Salati, da Esalq – USP, um abnegado. Os ventos dominantes na Amazônia sopram de leste para oeste, em função da rotação da Terra. Quando batem nos Andes, viram-se para o sul, descendo para o Prata. O volume de água transportado pelo ar adquire e grandeza do Rio Amazonas, com 200 mil metros cúbicos por segundo. É na cidade, na ponta do consumo, que se esconde o ovo de Colombo da proteção das reservas florestais. Chega de matar árvores para adornar a sala de visitas. Para minimizar o desmatamento bastam medidas engajadas, que busque acordo entre empresários e organizações ambientalistas. Repressão local é luta de guerrilha. A guerra mesmo se vencerá conscientizando a demanda. Nesse processo, a sociedade tem papel fundamental a cumprir. Basta, por exemplo, recusar-se a comprar madeira surrupiada da floresta. Simples, embora difícil. O grande consumo das toras amazônicas reside em São Paulo. A equação depende da construção civil e da indústria de móveis. Madeira de lei centenária – perobas, mognos, maçarandubas e imbuias – acaba serrada para virar caibros e ripas de telhados, tacos e tábuas de assoalhos, camas e armários. Existe a exploração sustentável, aquela oriunda de perímetros controlados, tecnicamente conduzidos, onde se escolhem apenas as árvores maduras para abater, não ameaçando a reposição da floresta nativa. A confiabilidade desse sistema é, infelizmente, precária. Inexiste auditoria. Desconfia-se de que muita madeira “certificada” seja esquentada no conluio entre a ganância e a ladroagem pública. A soberania dos estados da região Norte é indiscutível e sua manutenção é indispensável, há de se lutar por ela, mas sem lembrar da outra luta, a luta pela preservação. Não podemos baixar a guarda pois desde 1.500 nossas florestas vem sendo devastadas em maior ou menor velocidade. A conscientização das famílias, compradoras de casas e apartamentos, fecha o cerco contra a derrubada da Amazônia. Motivada, a sociedade vence a quadrilha florestal.