Os americanos estão cada vez mais indo às ruas montados em suas bicicletas.
Nos últimos trinta anos, o número anual de idas e vindas nesses veículos de duas rodas mais que triplicou.
E a participação do pedal nesse vai-e-vem, em relação aos automotores, quase que dobrou, indo de 0,6% para 1,0% do total – em Portland, Oregon, considerada a cidade americana mais amiga das bikes, tal participação é de 6%.
Aliás, em Portland, o volume de pilotos de bike é tão significativo que a AAA (American Automobile Association) já oferece o road service aos adeptos do pedal que resolverem se tornar membros, mediante módica taxa anual.
O uso da bicicleta como meio de transporte ao trabalho também dobrou nos últimos 10 anos, graças, principalmente, ao esforço dos administradores de cidades com interesse genuíno e crescente de tentar reduzir os problemas que a saturação do automóvel nas vias públicas tem trazido.
Esforço esse que se traduz na vontade dos prefeitos de que suas cidades se compatibilizem, seriamente, com esse objetivo, ou seja:
– Adaptando suas ruas com a construção de ciclovias adequadas – claramente diferenciadas e mais seguras;
– Conciliando os meios de transporte de massa, aderindo à fórmula, mais em moda, metrô-ônibus-bicicleta;
– Instalando e/ou incrementando o sistema bike-sharing (literalmente compartilhamento da bicicleta), em que, nas chamadas stations estratégicamente colocadas, se pode alugar a bicicleta – ou devolver… ou até só emprestar, dependendo do tempo de uso;
– E, principalmente, conscientizando motoristas e bikers, com o objetivo de mudar o cenário onde os primeiros tendem a ver os segundos como pedestres sobre duas rodas no lugar errado; e os segundos, como se estivessem na sagrada missão de salvar o planeta, ainda parecem ver os primeiros como o grande inimigo boicotador dessa missão…
O objeto-de-desejo dessa revolução pós-moderna do transporte tem sido, evidentemente, o norte europeu, onde a participação da bicicleta nos deslocamentos das pessoas em algumas cidades – Berlim, com mais de 750 km de ciclovias, bem como Amsterdã (com 400 km), Paris (com pouco menos) e Copenhagen (com 350 km) – chega a 30%.
New York, com quase 700 km de cycle tracks and bike lanes, vem logo atrás da capital alemã, mas ainda perde das outras no quesito melhor performance na modalidade.
A cidade de Hangzhou, na China, com suas mais de 60.000 bicicletas, é a que tem o maior serviço de bike-sharing do mundo, com 2.400 stations.
Paris, com 16.000 bicicletas, é a que tem o segundo maior, com 1.200 stations no famoso Vélib (vélo = bicicleta e liberté = liberdade).
A Terra do Tio Sam ainda vai ter muito trabalho pra acompanhar os europeus nessa corrida, eis que o carro é quase tão barato quanto a bicicleta e as restrições ao uso do automóvel são bem mais modestas.
O Brasil, comparativamente, está ainda pedalando nas suas magrelas com as rodinhas laterais, mas está com muita vontade de chegar lá.
O Rio de Janeiro, a pretensa capital da bicicleta tupiniquim, com seus 300 km de ciclovias até o final do ano, está em primeiro lugar e quase chegando lá.
São Paulo (Ah, São Paulo…), pra comparação, tem só 52 km, em sua maior parte voltados para o lazer, mas algumas cidades do interior paulista (Sorocaba, por exemplo, entre outras) estão com ótimo desempenho, assim como outras cidades brasileiras do sul e do norte, que não querem perder o trem dessa pós-modernidade.
Andar de bicicleta, mesmo sem isenção de IPI, de acordo com as mais renomadas pesquisas científicas, é bom pra saúde, pra qualidade de vida e pra comunidade como um todo.
E a gente, que trabalha como cachorro de esquimó pra ganhar muito dinheiro e poder, um dia, ficar pescando truta com o cachorro de estimação num vale paradisíaco, antes de subir ao paraíso propriamente dito, poderia começar passeando de bicicleta, nem que fosse só pra ir ao trabalho.
Se pedalizar o transporte é possível na terra do automóvel – que já mostrou ser também possível transferir seus rovers pra Marte, que não tem ar pra poluir e muito menos pedestre pra atropelar – por que não o será na terra da pelada de rua, do samba no asfalto e do gol de bicicleta?