SEITA GUIADA POR DINVIDADE

No mesmo dia em que completou um ano preso na sede da Polícia Federal em
Curitiba, o ex-ministro Antonio Palocci trouxe a pública uma carta dirigida
ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas que tem como alvo o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Sob pretexto de pedir sua desfiliação da legenda,
o texto de Palocci sela seu rompimento com o partido, com Lula e também
aprofunda as acusações que recaem sobre o ex-presidente. Julgo uma das
leituras mais importantes e emblemáticas desde o início da Operação Lava
Jato. Muito mais do que um mero observador privilegiado dos 13 anos de
Lulopetismo, Palocci é nada menos do que um dos mais engenhosos artífices do
Projeto de Perpetuação no Poder do PT. Homem letrado, de voz serena e
pausada, vem pulverizando a quadrilha e seu “poderoso chefão”, o Lula.
Fundador do PT, Palocci viu a instituição tornar-se agremiação de pilantras
e na seqüência em quadrilha, segundo ele, “Afinal, somos um partido político
sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma
pretensa divindade?”. Palocci não é o que chamo de um bandido romântico como
José Dirceu que provavelmente apodrecerá na cadeia sem dizer uma só palavra.
Também não é um covardão como Geddel Vieira Lima, o homem dos R$ 52 milhões,
um “bandido bebê Johnson”. O ex-ministro de Lula sabe bem o que deseja e o
que pode entregar em troca. O ex-ministro quer revelar o que sabe em troca
de perdão judicial e deverá indicar valores, destinos e referências de onde
se encontra a dinheirama que a pretensa divindade provavelmente amealhou
durante anos governando o Brasil em paralelo ao mundo do crime. Segundo
Palocci, Lula se dissociou do “menino retirante”. E fez isso “para navegar
no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem
limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que acumulam são apenas
detalhes”. Difícil imaginar as repercussões de tudo isso, a princípio a
Operação Lava Jato mergulhará em território desconhecido, dessa vez com GPS,
não mais com bússola. Parece que saberão exatamente aonde ir, e quem
procurar. Deveremos ter repercussões que incidirão nos próximos anos,
inclusive na sucessão presidencial de 2018 e 2022. Parece-me que quem
imediatamente perdeu foi o ex Presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB RJ),
que pelo visto não terá mais o que contar, ou terá?