Tudo passa, só Deus não passa, dizia Teresa D‘Ávila, a corajosa reformadora da Ordem das Carmelitas Descalças e hoje Doutora da Igreja. Passam também os homens e suas obras perecíveis. Ninguém se dá conta de que o mundo existiu – e muito bem – sem a nossa presença e continuará a existir – talvez também muito bem – quando partirmos dele. Cedo ou tarde, esse o destino inelutável.
Perdemos recentemente três grandes intelectuais. Dois deles da Academia Brasileira de Letras: Ivan Junqueira e João Ubaldo Ribeiro. O terceiro, quase acadêmico da Paulista de Letras: Rubem Alves. Conheci superficialmente os dois primeiros. O terceiro, só de leitura. Mas procurei investigar suas obras assim que soube da precoce despedida.
Afinal, aos 73 anos alguém é considerado ainda em plena fruição de suas capacidades. Cedo para morrer. O livro “Por uma educação romântica”, da Papirus, dá uma ideia do Rubem Alves que escreveu mais de 120 outros. É uma reunião de crônicas que primeiro se publicou em Portugal e só depois no Brasil.
Mostra o educador amorável, que acredita num outro processo formador de uma cidadania apta ao exercício de seus direitos e de uma humanidade mais humana. Da apresentação se extrai uma definição de Rubem Alves: alguém que “continua a acreditar e a defender que a burrice atual das escolas e dos professores não é um erro da natureza, uma deformidade genérica, mas o resultado de uma profunda disfunção do pensamento educacional que, por isso mesmo, está ao nosso alcance corrigir”.
Eloquente a concepção de Rubem Alves sobre a escola, que ele divide entre as categorias “gaiola” ou “asas”. E explica: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo”.
Quanta verdade nesse fragmento de uma obra consistente, substanciosa, exuberante e que precisa continuar a gerar uma atuação transformadora da educação brasileira. Rubem Alves já está no infinito, mas as suas verdades permanecerão conosco, enquanto tivermos angústia diante de uma escola que já foi melhor e que poderia ser ainda mais exitosa, se levássemos a sério suas lições.