Todos têm voz

Quem trabalha com o público sabe que nem todos os que ousam falar são os que têm a melhor coisa a dizer. Numa classe, por exemplo, há sempre alguns tímidos que não se manifestam. Às vezes, sua contribuição seria mais produtiva do que a dos audazes, que sempre levantam a mão e, não raro, fazem observações impertinentes. Os Estados Unidos já se utilizam de um instrumento que dá voz a toda uma classe.

Ele se chama “clicker” e é um aparelho portátil sem fios e com poucos botões, utilizado em auditórios. Os professores solicitam seu uso para anotar presença, em votações instantâneas e em testes de múltipla escolha. Reuniões de trabalho também se servem dos clickers para apurar de imediato o resultado de pesquisas em slides de power point. Seu uso atingiu ainda quartéis, igrejas, navios de cruzeiro, clínicas e todos estão satisfeitos com os resultados.

O clicker é eficiente, respeita o ambiente e permite que o usuário imite os participantes de “games shows” na televisão. Nas viagens de navio, os passageiros se entusiasmam porque podem avaliar instantaneamente um debate e mostrar seu vencedor. Descobrir como todos estão pensando é divertido e orienta as futuras apresentações. Com o clicker, todas as vozes são importantes e se as pessoas percebem que suas opiniões são levadas a sério, se desinibirão e passarão a emitir sua vontade com frequência maior.

Este sistema de resposta da audiência tem larga utilidade numa sociedade em que checar a opinião da multidão é a norma. É uma nova maneira de transparência para a psicologia das multidões e poderia servir ao governo, em audiências públicas ou grandes concentrações.

Com isso, treinar-se-ia o cidadão a participar e a tornar concreta a promessa do constituinte de uma Democracia Participativa, que não pode prescindir da efetiva atuação de todas as vontades. É lógico que muitos arrogantes e cheios de si, que alardeiam uma legitimidade advinda do consentimento da maioria, ficariam surpresos ao verificar que não é bem assim. Mas se adquirissem humildade e procurassem aferir a efetiva vontade do povo, todos ganhariam com isso. Por que não começamos a usar o “clicker”?