Tudo bem, sem novidade

Quando criança, havia uma lição do “Livro de Leituras” do curso primário, que tinha esse título: “Tudo bem, sem novidade”. Narrava as aventuras de um estudante brasileiro que, ao chegar de Coimbra nos tempos imperiais e encontrar seu cocheiro com a carruagem a esperá-lo, pergunta como vão as coisas e o empregado responde sempre com essa frase. Só que não era bem assim. 

A família falira e os pais tinham morrido. Tudo estava péssimo, porém para o subalterno, tudo continuava na mesma. Isso me faz lembrar a situação brasileira atual. Vejo lojas fechando. Alguns municípios minguando, com sua população jovem partindo para outras plagas, ante a falta de perspectivas. Uma crescente ocupação dos espaços públicos por “moradores de rua”. 

Violência explícita em crimes cada vez mais cruéis, violência implícita em todos os relacionamentos. Excesso de veículos, de poluição, de comprometimento do ambiente, perda da biodiversidade. O Brasil nos últimos lugares do mundo em termos de qualidade de vida, de excelência da educação. Descrença na política. Generalização na desconfiança de tudo o que é exercido em nome do governo.

Será excessivo pessimismo enxergar esse quadro, quando se verifica o ufanismo da propaganda oficial, eufemisticamente chamada “comunicação social”? É verdade que o Brasil conseguiu tirar da miséria milhões de brasileiros. Também não é menos verdadeiro que vivenciamos um período de tranquilidade institucional. Frágil e incipiente, a Democracia brasileira parece ter vingado. Desde 1985, não temos autoritarismo.

Mas é preciso estar vigilante. Em volta de nós, há um retrocesso democrático. Governos democraticamente eleitos se convertem ou, melhor se diria, se pervertem. Querem eternizar-se. Consideram-se insubstituíveis os líderes populistas. E só conseguem permanecer nas alturas se, ao mesmo tempo em que cultivam os áulicos, tentam destruir os adversários.

Não se vive o melhor dos mundos. Não se pode descansar sobre aparentes vitórias. A preservação da liberdade e a conquista de nível adequado de vida para os brasileiros depende de muito trabalho e de muita seriedade. Menos discurso e mais ação. E as novidades futuras só poderão ser melhores do que as presentes.