Um milhão de homicídios

Em 2009, o Brasil obteve mais um êxito: completou um milhão de homicídios. É um dos países mais violentos do mundo e, em termos absolutos, é aqui o lugar onde mais pessoas morrem vítimas de agressão.

Os números não mentem e foram analisados por Cláudio Beato, no seu livro “Crime e Cidades” (Editora UFMG). O homicídio é a principal causa de mortes de jovens entre 15 e 25 anos.

Essa taxa é pouco lembrada quando o ufanismo se regozija pela melhoria nos índices sociais. Mais um dos paradoxos brasileiros, lembra Beato. Para ele, “as chances de morrer, vítima de homicídio, quando se é um homem jovem habitante da periferia, chegam a ser até de 300 vezes mais do que para uma senhora de meia idade que habita bairros de classe média”.

O que significa isso em termos econômicos? Há dispêndio dos sistemas de saúde, atola-se o Judiciário com inquéritos por homicídio que raramente chegam ao Tribunal do Júri, esquema sofisticado de se proclamar a existência de uma verdadeira Democracia.

Desvalorizam-se os imóveis, investe-se em segurança pública e privada, acelera-se o fenômeno da migração, perde o turismo. Todos perdem quando jovens do sexo masculino, pobres, prioritariamente negros ou mulatos, entregam sua vida à queima do arquivo, ao acerto de contas, à droga que mata imotivadamente, a uma série de causas não seriamente enfrentadas.

Cerca de 5% do PIB de municípios como São Paulo, Rio e BH se perde na violência assassina e isso vai desaguar em 10% do PIB nacional. Em termos de “capital humano”, as perdas são calculadas em R$ 20,1 bilhões por ano, soma estimada do rendimento que as pessoas que morreram teriam durante sua vida.

Os homicídios persistem exatamente nas áreas menos atendidas por equipamentos sociais. Aí é que o Estado some e a criminalidade organizada impera. Impõe suas leis, seu regramento, não se submete ao convencionalismo do Judiciário. E o pior é que há conivência da maior parte da sociedade em relação ao drama. Como escrevi há algum tempo, a morte de moços pobres e de periferia é considerada, por muitos, como “faxina social” e não como “chacina”. E ainda há quem se vanglorie dos ganhos sociais recentes, como se este fosse o melhor dos mundos…