Quando se entende que as vidas humanas estão enfermas, o filósofo tentará curá-las. É a mesma função do médico, em relação às doenças do corpo. Se a missão da medicina é recuperar a saúde do corpo, a missão do filósofo é recuperar a saúde da alma. O mundo oferece paradoxos incríveis. A ciência produziu fórmulas de combater doenças e de prolongar a vida.
Ao mesmo tempo, a angústia se apropriou de grande parcela das mentes humanas. As pessoas se atormentam, sentem desconforto, estão permanentemente insatisfeitas. Sentimento que conduz à concretização de males físicos, orgânicos, em síntese corporais. Todos padecemos de alguma anomalia. Viver mais é sujeitar-se a apresentar mais dificuldades e mais defeitos. A máquina começa a ratear, a apresentar desgastes. É o roteiro normal da existência.
Os orientais perceberam isso há milênios. Daí chorarem quando alguém nasce. É que ao nascer, toda pessoa começa a morrer. E um dia morre mesmo. Há doenças que exigem tratamento específico. Mas há outras que admitem grande variação. Tanto a psiquiatria, como a psicologia quanto a filosofia podem tratar do mentalmente enfermo. Hoje não há dúvida alguma quanto ao poder da mente.
Há quem sustente, e com argumentos fortes, que é na consciência que nascem as enfermidades. Marco Aurélio já dizia que “a felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos”. E Epicteto, outro filósofo hoje esquecido, reconhecia que “as pessoas não são perturbadas pelas coisas, mas pelas visões que têm das coisas”. Ou seja: somos peritos em fantasiar, em complicar, em criar confusões.
Quem já não experimentou o fruto amargo da maledicência? Há quem tenha ficado realmente enfermo, apavorado, complexado, infeliz, por causa de comentários maldosos. É muito importante concluir que nada de externo pode afetar você. Mas isso é o final de um aprendizado que pode durar a vida toda.
Quantas pessoas conhecemos que levam tudo a ferro e fogo, que se irritam por qualquer motivo, que vivem “de mal com o mundo”? São pessoas infelizes. Nos santificam, no sentido de que nos aborrecem, testam nossa paciência e nossa capacidade de resistir à sua impertinência. Que elas nos sirvam ao menos para afastar de nós essa miserável enfermidade.