Vocação mimética

O Brasil sempre teve reduzida autoestima. O nacional é sinônimo de inferioridade perante o estrangeiro. O curvar-se perante o de fora é sina. Por isso a espinha dorsal complacente de tantos considerados ilustres. Mal saindo da Colônia, os brasucas achavam bonito copiar a Corte Europeia e trouxeram para os trópicos os trajes do inverno europeu. E assim continuou. Enganou-se quem pensou que aqui se instauraria uma nova civilização, expungida dos defeitos e arcaísmos do Velho Continente.

Pouco adiantou o alerta de vozes lúcidas. Em termos culturais, o retrocesso é galopante. Vejo a última carta de Fradique Mendes, que Eça de Queiroz endereçou a Eduardo Prado e constato a realidade. Eça diz: “O que eu quereria (e o que constituiria uma força útil no Universo) era um Brasil natural, espontâneo, genuíno, um Brasil nacional, brasileiro, e não esse Brasil, que eu vi, feito com velhos pedaços d´Europa levados pelo paquete, e arrumados à pressa, como panos de feira, entre uma natureza incongênere, que lhes faz ressaltar mais o bolor e as nódoas”.

 Eça critica o abandono do campo e a insensatez de se apinhar na cidade e a cópia tumultuária da civilização europeia: “Em breve o Brasil ficou coberto de instituições alheias, quase contrárias à sua índole e ao seu destino, traduzidas à pressa de velhos compêndios franceses”. Mais ainda: “Os velhos e simples costumes foram abandonados com desdém: cada homem procurou para a sua cabeça uma coroa de barão, e, com 47 graus de calor à sombra, as senhoras começaram a derreter dentro dos gorgorões e dos veludos ricos. Já nas casas não havia uma honesta cadeira de palhinha, onde, ao fim do dia, o coro encontrasse repouso e frescura: e começavam os damascos de cores fortes, os móveis de pés dourados, os reposteiros de grossas borlas, todo o pesadume de decoração estofada com que Paris e Londres se defendem da neve e onde triunfa o micróbio”.

 Quanta verdade! E hoje? Só trocamos de original. Copiamos os americanos, mas não tivemos coragem de abandonar o velho esquema bacharelista, reproduzido de uma Coimbra que o conservara por mil anos e que nós mantemos desde 1827 sem qualquer adaptação. Viva o Brasil!