Você conhece seu pai?

A natural distância entre as gerações é tema permanente. Os pais reclamam de que no seu tempo era diferente e hoje tudo parece “uma bagunça”. Os filhos não compreendem o anacronismo dos pais. Há exceções, mas o discurso parece o mesmo em todas as rodas.

A coisa complica para os filhos de famosos. Pessoas que se destacaram geram uma angústia na sua prole. Como ultrapassar os pais? 

Gotham Chopra, filho do popstar da autoajuda Deeparl Chopra, fez um documentário como catarse. Chama-se “Decoding Deepak”, algo como Decodificando Deepak. Não é um laudatório, pois critica Deepak por seu narcisismo. Ele fica ansioso em relação ao esperado sucesso de seus 66 livros já publicados. O filho documentarista reconhece o fato: “O narcisismo é a grande contradição de meu pai e o grande paradoxo da espiritualidade, da qual ele é um ícone”. 

No filme, Gotham, hoje com 37 anos, acompanha o pai por todo o globo. Assiste a palestras e também à ordenação do autor como monge budista na Tailândia. Enquanto isso, travam diálogos sobre a consciência. 

O pai se subordinou à experiência. “A maneira mais fácil de escapar foi dizer sim”. Ele está com 65 anos, comanda um verdadeiro império de seu escritório em Deepak HomeBase, um estúdio em nova York. E encontrou prazer em conviver mais com o filho. 

Deepak Chopra é um imigrante indiano que se tornou médico bem-sucedido em Boston e se converteu em apóstolo do movimento de meditação transcendental e espiritualista pop best-seller, graças à Oprah Winfrey, em 1993. Ao ser entrevistado sobre o filme, disse: “Acabo de sair de uma semana de silêncio em que contemplei minha própria morte”. Era um retiro de meditação. Está com novos 3 livros no prelo e continua preocupado em ser cada dia mais conhecido. 

Hoje, com a facilidade de se fotografar e filmar, todos podem fazer documentário ou álbuns de seus pais. É uma forma de se eternizar – durante um tempo, eis que o eterno é uma promessa humanamente inatingível – a história particular de cada ser humano. Acho que pode valer a pena. É mais uma via para o autoconhecimento, que passa por conhecer melhor seus genitores, sua origem, sua família.