65 MILHÕES DE ANOS

Em pleno inverno, chuvas de um mês em apenas 3 horas, cidades soterradas por
avalanches de lama, furacões nos paraísos do sul brasileiro, verões
desérticos. Tudo isso é fruto da desordem provocada por nossa civilização.
Populações vivendo em megacidades consomem enormes quantidades de energia
para manter suas infra-estruturas e o fluxo diário da atividade humana. O
reverso da urbanização é o que estamos deixando para trás do nosso caminho
rumo a um mundo de prédios residenciais ou de escritórios de cem andares e
de paisagens de vidro, cimento, luz artificial e interconexão eletrônica.
Não é por acaso que, ao celebrarmos a urbanização do mundo, velozmente nos
aproximados de outro histórico divisor de águas. O desaparecimento do mundo
natural. População aumentado, consumo crescente de alimentos, água e
materiais de construção, expansão do transporte rodo-ferroviário e
alastramento urbano seguem usurpando o que resta da natureza, levando-o à
extinção. Os cientistas dizem-nos que, durante o tempo de vida das crianças
de hoje, a vida selvagem desaparecerá da face da terra. A Transamazônica,
que corta a floresta tropical da Amazônica em toda a sua extensão, está
acelerando a destruição do último grande hábitat natural. Outras regiões
silvestres remanescentes, de Bornéu à Bacia do Congo, estão diminuindo
velozmente, abrindo caminho para populações humanas cada vez mais numerosas
em busca de espaço e recursos para viverem. Não surpreende que (de acordo
com o biólogo de Harvard E. O. Wilson) estejamos vivenciando a maior onda de
extinção em massa de espécies animais em 65 milhões de anos. Estamos
perdendo de 50 a 150 espécies por dia, ou entre 18 mil e 55 mil por ano.
Certamente também haverá muita coisa a aplaudir na vida urbana: sua rica
diversidade cultural, o inter-relacionamento social e sua densa atividade
comercial. Mas a questão é de magnitude e escala. Precisamos refletir sobre
o melhor meio de reduzir nossa população e desenvolver ambientes urbanos
sustentáveis, que utilizem energia e recursos de forma mais eficiente, sejam
menos poluidores e projetados para favorecer condições de subsistência em
escala humana e sustentável.