O projeto “Fronteiras do Pensamento” é oportunidade para ouvir pensadores que enxergam o mundo por uma ótica singular. São pessoas de formação heterogênea, mas todas influentes na leitura do mundo contemporâneo. Em 2013, o primeiro conferencista foi o peruano Mário Vargas Llosa, prêmio Nobel, engajado na política, atuante e lúcido.
Sua fala parte da constatação de que o verbete “cultura” serve para designar tudo em nossos dias. Cultura pop, cultura reggae, cultura da cocaína, pode-se colocar cultura antes de qualquer outra palavra. Isso significa que cultura hoje não significa nada. Ele se sentiu lesado ao visitar a Bienal de Veneza e verificar que não era mais uma exposição de artes, mas uma espécie de happening, de circo, de disneylândia.
Criticou Marcel Duchamp, que mostrou um vaso sanitário como arte, querendo dizer que não são os críticos ou os eruditos que ditam o que é cultura. Mas cada qual pode escolher o que quiser. Poderia ter citado Andy Warholl, que estampou latas de sopa campbell nos EUA e ficou famoso.
Mas mencionou John Cage, um grande músico do século XX, que realizou o !concerto do silêncio!: um pianista ficou sentado diante de um piano e não tocou. Mas isso gerou toneladas de artigos, querendo explicar o que significa a nova música silenciosa. Tudo parece mostrar que o mundo atual é o da superficialidade, da mediocridade, da falta de esforço e de investimento na formação de um acervo consolidado de estudo.
Cultura é também acumulação de conhecimento. Não pode ser tudo, porque aí passa a ser nada. Os pais precisam ser mais responsáveis quando nada exigem dos filhos, acreditando que o governo – tentacular sorvedouro de recursos – tem obrigação de educar seus filhos. Não é assim. A educação no Brasil capenga. É abaixo de sofrível.
Mas a sociedade pensa estar no melhor dos mundos. É a cultura do “tudo bem”, do “país do futuro”, da ficção de que a Copa vai solucionar os problemas de infraestrutura e segurança e que não há motivos para deixar de cultivar o ufanismo que embala o sono dos justos.
Quando o Brasil acordar, levará um susto ao constatar que se esqueceu dos valores do trabalho, do sacrifício, do esforço próprio, muito diferente da cultura do coitadinho, que parece embalar este pesadelo.