Eu, comedor voraz, me confesso (Parte 1)

Qual é o verdadeiro custo do que comemos?

Mesmo os que não somos vegetarianos, havemos de convir em que as plantas são a base de toda a cadeia alimentar. Sem elas, nem existe cadeia alimentar – e a vida no nosso planeta seria impossível.

À exceção de algumas bactérias, as plantas são os únicos seres vivos autótrofos, ou seja, aqueles privilegiados que se autoalimentam.

Isto graças ao milagre da fotossíntese, processo desencadeado no laboratório da célula vegetal que transforma gás carbônico e água em glicose e oxigênio, via captação da luz solar pela clorofila.

Nós outros, como vis heterótrofos – aqueles que consomem outros seres vivos – dependemos das plantas pra continuar existindo, assim como todos os demais polífagos, onívoros e assemelhados que concorrem pela vida na Terra.

Bactérias, virus, fungos, vermes, insetos, pássaros e peixes, felinos ou asininos, bovinos, suínos e caprinos, tanto quanto o camelus e seus beduínos, os bípedes, os quadrúpedes e os milípedes, todos estão na fila da comida conosco.

Somos todos construídos de tal forma que precisamos consumir os compostos complexos que as plantas fazem e desintegrá-los de tal modo  que possam sustentar as  nossas funções vitais.

E apenas elas, as plantas – direta ou indiretamente (via animais que as comem e depois são por nós devorados) – podem nos prover o sustento que requeremos.

As plantas não são somente necessárias para nutrição, mas também, através do processo da fotossíntese, nos mantém respirando, com farta e indiscriminada distribuição de oxigênio em troca do dióxido de carbono venenoso que lhes devolvemos, além de nos fornecer matéria- prima pro nosso vestuário, habitação, mobilidade e energia, que tornam nossa vida humana mais confortável.

E, como se não fosse o suficiente, ainda nos deslumbram com sua exuberante forma estética e beleza.

Diante de tal magnitude, urge reverenciar, e se mobilizar de forma conjunta, como civilizados que nos consideramos, revendo posturas, concepções, regras e normas, preterindo o indivíduo – e suas necessidades individuais – e abrindo espaço para medidas de abrangência global, já que a tecnologia de agora nos revela que tal globo não passa de pequeníssima esfera – inculta e bela, como certamente diria Olavo Bilac se entre nós ainda estivesse – sedenta de vida, isolada na vastidão aparentemente finada do universo.

Poderíamos começar agora, mudando o nome de “consumidor” – e mais ainda o chulo “comedor”! –  para “participante”, mas isto é matéria para o próximo blog…