O RECADO VIRÁ DAS RUAS

O que dizer sobre o crime, as investigações, a promiscua relação entre
governo e empreiteiras, e agora os denunciados da Operação Lava a Jato da
PF? Não é de se surpreender que a moral e a ética no Brasil estejam de
ponta cabeça. Cenas do cotidiano mostram a curva da inversão dos nossos
valores. Políticos, empresários, juízes, padres, pastores no passado esteios
da sociedade, hoje não mais. O cotidiano do Brasil me lembra a Colômbia de
Pablo Escobar, a Itália da “Cosa Nostra”. A distinção entre marginais
tradicionais e os da “Lava a Jato” é o tipo de roupa e a condição social. A
contravenção tem uma lógica de conveniências, a mesma que Renan, Collor,
Lobão, Gleisi, Roseana, Palocci, Dirceu crêem. Certa vez o apresentador
Luciano Huck foi rechaçado por alguns jornais. Ao ser assaltado e ter seu
relógio Rolex subtraído, insinuavam que era inadmissível alguém “pendurar o
equivalente a várias casas populares no próprio pulso”. Virou moda achar que
roubar ricos é fazer justiça aos pobres. A estapafúrdia tese se encaixa na
moldura da perversão nacional. A Operação Lava a Jato envolve a prisão de 11
executivos das maiores empreiteiras do País, o inquérito contra 11
senadores, 26 deputados federais e outras pessoas sem prerrogativa de foro.
Um exemplo da iniqüidade. Tornou-se o epicentro da crise moral que arrebenta
a instituição política nacional. Se o Legislativo afunda, o Executivo vai à
luta para tentar ficar de fora. O vice-presidente da República, Michel
Temer, no programa político do PMDB pousou de possível presidente, para o
caso de Dilma sofrer um “impeachement”. É sempre assim. Para não resolver um
problema, cria-se um maior. Já a presidente Dilma continua a deslizar na
insensatez. Produz máximas sem nexo. Na sexta passada disse que a lista de
políticos a serem investigados não diz nada. Julgo uma excrescência. A
ausência de vergonha na cara se espalha na esteira do corporativismo. A taxa
de moralidade se esvai ante o pedestal do marketing. Até o clima entra na
zona de rebaixamento geral, haja vista a flagrante devastação das reservas
florestais. E os valores do passado, onde estão? Para despertar o gigante
adormecido do porre moral, só mesmo a indagação, a mobilização dos cidadãos
ativos, a pressão das ruas. Nesse domingo, 15 de março de 2015 as ruas
deixarão de ter nome, se chamarão apenas Democracia.