Nestes tempos tristes em que a crise hídrica mostra que veio para ficar, é bom refletir sobre o que incumbe a cada um de nós em relação a esse líquido. Sem petróleo consegue-se viver. Sem água, nunca. Mas a maioria continua a gastá-la como se ela fosse infinita. Como se fosse possível comprá-la da Sabesp ou das DAEs e similares espalhados pela República. Pouca gente se deu conta de que a coisa é muito mais grave do que se divulgou e do que aparenta ser, pois ainda não houve falta absoluta de água.
Enquanto cada um faz o seu exame de consciência e adota medidas de economia, não é demais assistir ao documentário chamado “A vida engarrafada”. Foi produzido em 2012 pelo diretor Urs Schnell, tem a duração de 90 minutos e pode ser baixado no Netflix.
É uma crítica ao produto “Pure Life”, no Brasil chamada “Pureza Vital”. Desmascara a farsa da empresa quanto à instalação de um sistema de água potável em acampamento de refugiados na Etiópia. A iniciativa humanitária e propagandeada qual emotivo marketing ecológico não funciona. Desde 2004 a empresa não aparece lá. Os equipamentos estão deteriorados e, portanto, falta água.
Em seguida, o documentário retrata o litígio da companhia com três pequenas cidades no Maine. Uma delas já tem drenados de seu subsolo um milhão de litros de água por dia. Ali também acontece o que é comum no Brasil: a normatividade é flexível aos interesses das grandes corporações. Indignada, uma moradora de Fryeburg afirma: “No Maine é lícito e legal roubar!”.
A empresa não paga um centavo pela água do subsolo, o mesmo acontecendo no Paquistão e na Nigéria. Poços secam, investimento zero em rede pública e disseminação de tifo, hepatite e cólera.
A água é um direito humano. Mas quem tem acesso a ela? Quem pode cobrar por ela? São confiáveis os governos? A crítica a tais fatos é feita por Carlos Thadeu de Oliveira, Gerente Técnico do IDEC, na revista publicada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor de dezembro de 2014. Mas é algo que ocorre nos Estados Unidos, no Paquistão, na Nigéria. Aqui no Brasil tudo é diferente. Quem engarrafa água paga ao Poder Público para compensar a cidadania que é privada de se servir daquilo que é de todos e a que tem legítimo direito. E a fiscalização funciona a contento. Ainda bem!