Compreender a imperfeição

Nossa profunda arrogância, a conviver com a suprema ignorância, nos leva frequentemente à intolerância. Três verbetes que terminam em rima pobre, assim como a nossa capacidade de enxergar o mundo. O conhecimento pode ser adquirido pelo estudo, pesquisa sistemática e é, portanto, acumulável. Isso não significa sabedoria. O sábio independe da erudição. Ele experimentou, vivenciou situações e assimilou as lições que vale a pena guardar.

Tenho consciência de que me falta muito para reduzir a imensa carga de misérias com a qual todos nascem. Penso, como Zygmunt Bauman: “Nós, seres humanos, somos criaturas imperfeitas, seres finitos pensando na infinitude, mortais tristemente tentados pela eternidade, incompletos sonhando com a completude, seres incertos famintos de certeza. Somos irremediavelmente insuficientes”.

Ter noção da insuficiência já um bom caminho para adquirir humildade. Não a falsa modéstia, que até reafirma nosso orgulho. Mas a convicção inarredável de que a vida é efêmera e frágil. Não vale a pena brigar por qualquer coisa. Tolerância, temperança, paciência, resignação também devem ter lugar em nosso cotidiano.

Busco entender os melindres, o excesso de sensibilidade, os ressentimentos. Para conviver melhor. Para aceitar o próximo na sua diversidade. Assim como ele tanta vez nos aceita, a despeito de nossas deficiências. O mundo seria melhor se todos nos respeitássemos. Não é impossível conviver, nem tentar construir um mundo melhor. Mas o começo está dentro de nós. Ninguém tem a chave, senão o próprio indivíduo. Procuro, constantemente, aprimorar o pouco de bom com que fui premiado e remover o excessivo estoque de defeitos que adquiri ao longo da existência. Nutro a esperança de que, só então, o convívio será algo de mais palatável e prazeroso para quantos residam na nossa esfera de contatos obrigatórios.