40% do eleitorado americano hoje se declara independente, ou seja, nunca foi adepto ou migrou dos dois principais partidos – dos democratas, se segurando em 31% e dos republicanos, insistindo em 27%, (e 2% de “whatyoutalkin’bou?”).
Tal número de amotinados é o maior em mais de sessenta anos, e o ‘Gallup’ garante que a tendência é crescente, o que demonstra que o eleitor está cada vez mais se libertando da opressão partidária que vigia (do verbo ‘viger’, embora neste caso também se aplique ‘vigiar’) até a chegada do fim da bonança pós lei seca, embora já viesse oprimindo menos, gradual e inexoravelmente.
Com isso, ‘o buraco ficou mais embaixo’, e é preciso se ajustar ainda mais, pondo o foco nos diferentes grupos de indivíduos neste ‘melting pot’ incandescente, e tentar buscar os 270 votos do colégio eleitoral que levarão ao ‘Olimpo’.
Nestes tempos em que se espera um ‘santo milagreiro’ – e ‘no los hay como los habia’ – faz-se o que pode…
O Romney deverá se concentrar nos eleitores que preferiram John McCain em 2008 (22 estados), recuperar os três estados tradicionalmente republicanos ‘capturados’ por Obama (Indiana, Virgínia e Carolina do Norte), convencer os indecisos de Ohio, Florida e Missouri.
“Mission accomplished”, restará, então, conquistar ‘só’ mais um estado, como por exemplo New Hampshire, onde tem uma casa, Colorado, Pennsylvania, ou Michigan, onde seu pai é considerado ter sido um bom governador. Como empresário, e investidor, bem-sucedido, alega entender mais de economia que o concorrente, e que ele, sim, criará os empregos que todo mundo precisa pra ficar tão rico quanto ele.
Tem um desafio hercúleo pela frente, porque a história conta que, em 100 anos, somente 5 candidatos a presidente conseguiram impedir o ocupante do cargo de ganhar o segundo mandato…
O Obama, como deixou claro no tom populista de seu discurso no ‘Cinco de Quatro, digo, de Mayo, de Mayo’, enfocará a campanha nas pessoas ‘ordinárias’ e nos ‘blue collars’ desempregados, tentando se agarrar aos estados – e à mesma história – que ganhou em 2008.
Evoca o ‘espírito americano’ de não desistir: “We don’t quit!” – evocação esta de fortíssimo apelo emocional na cultura americana,
Sem poder ‘cantar vitória’ na batalha contra o desemprego – ‘que não Ford e nem sai de Simca’, como se dizia no meu tempo, quando ainda havia ‘milagres econômicos’ e os camelôs aproveitavam pra vender água benta até pra automóvel em Pirapora do Bom Jesus – tenta ‘tirar da reta’ na responsabilidade pela teimosa taxa de 8.1%…
Falando lá no cinturão industrial, notadamente à indústria automotiva, combateu as críticas de Romney à enorme ajuda federal (‘bailout’) concedida no seu governo: “Quando alguns queriam deixar Detroit falir, nós não viramos as costas. Hoje, a indústria de automóvel americana está no topo do mundo.” (Não mencionou o ‘azar’ da Toyota com os ‘recalls’, nem a consequente ‘sorte’ da GM, Ford, e até da Chrysler…).
Segue, agora sob a crítica da mídia pelo excesso de ‘lesma lerda’, capitalizando com a morte do Bin Laden, ao mesmo tempo em que promete trazer de volta os milhares de militares que ainda estão no Afeganistão: “Por volta de 2014, a guerra no Afeganistão estará acabada. Precisamos reconstruir a América!”
Aborda também, o tema da imigração ilegal: “É hora de parar de negar cidadania a jovens responsáveis só porque são filhos de imigrantes não-documentados!”
Tais propostas, escolhidas a dedo, claro, têm sido combatidas por Romney em diferentes ocasiões.
Obviamente, os temas escolhidos, bem como o tom dos discursos, tem o objetivo duplo de convencer o eleitorado da viabilidade e eficácia das propostas oferecidas e da total incapacidade do adversário de tê-las proposto, e muito menos de aplicá-las.
Nestes tempos em que nem o surfe nos USA é mais o mesmo dos tempos dos Beach Boys, resta saber se tanto o Romney como o Obama vão arrumar emprego de investidor sem-muito-escrúpulo em Wall Street, ou de pedreiro na reconstrução civil da América…