Nessa segunda-feira de manhã, os meus colegas no trabalho estarão, como de costume, mais interessados em discutir as partidas de ‘football’ havidas no domingo do que na eleição do seu presidente.
Tais debates, cujos participantes são aqui chamados de ‘Monday morning quarterbacks’ – pra quem não sabe, o ‘quarterback’ é o jogador que organiza o andamento da partida, acionando os colegas, distribuindo a bola e a movimentação em campo – vêm sempre recheados de soluções infalíveis e de explicações ‘óbvias’ que levaram à vitória ou causaram a derrota.
Se o time passa a perder seguidamente, e a tática e a organização do jogo não funcionam mais, tornando a vida desses ‘quarterbacks’ mais difícil, vem o diagnóstico impiedoso: “sei lá eu, ‘man’! tem de tirar esse técnico!”.
A mim parece que assim têm sido as eleições presidenciais americanas, pra não citar as demais…
George W. Bush, o republicano reeleito em tempos de bonança econômica crônica e nacionalismo agudo, se tornou – involuntariamente, claro! – o maior cabo eleitoral do democrata Barak Obama em 2008, dada a crise catastrófica que irrompeu em 2007.
‘Técnico da vez’ na inacreditável recessão que lembrava a Grande Depressão de 1930, todos pediram sua cabeça, incluindo o colega de partido John McCain – e seu desempregado ‘Joe the plumber’ – que procurava desvencilhar-se de Bush como Houdini de suas correntes. Evidentemente, não conseguiu…
Naquela época, se não contribuiu para o desfecho da eleição, fez enorme sucesso popular o ator e comediante Will Ferrell com sua impressionante personificação de Bush: “quando olharem pro McCain, este é o rosto que vocês verão”, repetia no programa ‘Saturday Night Live’ da NBC.
Ainda bem pro Bush que, depois do segundo mandato, a saída era compulsória!
Que fosse, então, discreta e dispensasse qualquer iniciativa – ou resistência! – de sua parte!
O que não é, absolutamente o caso do Obama, e dos democratas, que precisam de mais tempo pra conseguir a ‘redenção’ com a volta da bonança…
Hoje, com a teimosia daquela catástrofe econômica que vai chegando aos cinco anos como cidadã do mundo, ficar é quase impossível, por mais audaz que seja a esperança!
O que importa agora é que a América é o ‘time’ que perde e o Obama é o ‘técnico da vez’, fato que a maioria das pesquisas junto aos eleitores (Gallup et al) já começa a mostrar.
Diante do ‘tsunami’, procura-se, sob protestos e passeatas, um piloto ‘mais hábil’ (mas, aparentemente, pode ser só outro), ignorando-se que, nesta intempérie, a capacidade do barco, e não necessariamente do comandante e sua tripulação, é que vai mantê-lo navegando.
Em outras palavras, a economia doente tem se revelado um paciente dificílimo, que só melhora pra ‘permitir’ a recaída, invalidando os procedimentos acadêmicos de praxe e indicando o tratamento de choque, que tem sequelas maiores, pelo menos politicamente.
E, na prática, o que se vê fora do ‘Magic Kingdom’ é que ‘la dolce vita’ daqueles que a tinham parece ter chegado ao ponto de saturação.
Os americanos, que em geral têm praticado o ‘all you can eat’ desde o final da segunda guerra – e também o resto do mundo ocidental, ‘americanizado’ muito além do que podia – estão tendo que ‘aprender’ a viver nestes ‘novos’ tempos, embora ambos os candidatos estejam aí prometendo trazer a ‘velha américa’ de volta: vão, enfim, reduzir as despesas e equilibrar, de uma vez por todas, o orçamento, como solução definitiva para todos os males.
Todo mundo sabe – até os ‘Monday morning quarterbacks’! – que, seja governo, empresa ou indivíduo, pra melhorar as finanças, antes do calote puro e simples, é preciso decidir pelo menos por uma das alternativas:
a) Reduzir os gastos;
b) Aumentar os ganhos.
Não é preciso candidato jurar que vai fazer as duas coisas se o elegerem…
O que ele precisa é explicar como o corte de despesas do governo– leia-se salários do empregado, opção já escolhida há algum tempo – vai melhorar a arrecadação.
Talvez cobrando mais do desempregado? “Give me a break!”