Era dos Extremos

Esse é o nome de um best-seller do maior historiador de nossa época, Eric Hobsbawm, lançado originalmente em 1994, onde trata de maneira espetacular e com a marca de seu talento, o que chama de “O breve século XX : 1914-1991”, período que coincide com a parte de sua vida adulta e mais produtiva.

Lembrei-me desse livro, ou melhor, do paradoxo que caracteriza tão bem as crises que se seguiram, as derrocadas econômicas e as comoções sócio-políticas mundiais após o crash de 1929.

Imersa numa crise que não tem data para acabar, inúmeras tentativas falharam e agora a União Europeia (EU) já aceita flexibilizar o que há poucas semanas era inaceitável, e a Espanha deve fechar o ano com um déficit de 6,3% do seu PIB, aumentar os impostos e o mais importante, um corte 30 bilhões de euros, principalmente dos benefícios sociais.

Outro extremo, seguindo uma conduta que já se iniciou há um ou dois meses atrás, ontem os investidores “pagaram” para manter seu dinheiro na Alemanha e emprestar ao governo alemão!

O mais chocante é que no mesmo dia, a 4ª. economia da zona do euro, a Espanha, vendeu os títulos do Tesouro espanhol, para 10 anos com uma taxa recorde de 7%.

Nos últimos meses 200 bilhões de euros saíram dos bancos espanhóis para entrarem nos alemães, em busca de um porto seguro. (O Estado de São Paulo)

E também ontem, a procura pelos papéis da dívida do Tesouro alemão (1ª economia da zona do euro) foi tão grande que a taxa de juros para o investidor também bateu um recorde, só que dessa vez em sentido contrário, atingiu um índice negativo de -0,3%, algo inédito nos últimos 70 anos!

Não precisa ser especialista para perceber claramente que a economia europeia, e seu forte impacto global, está doente. Não é possível uma diferença desse porte entre a 1ª. e a 4ª. maiores economias da EU.

Não obstante todas as medidas que já foram tomadas, as promessas de reformas e as aprovações de resgates, o que fica patente é que a patologia econômica segue seu curso inexorável e insensível a todas as medidas alardeadas.

É um mau agouro. Não vamos ser catastrofistas e procurar similaridades com o que aconteceu na primeira metade da década de 1930 e suas consequências posteriores, mas não podemos deitar na ingenuidade e acreditar que a solução está em pacotes “luminosos” dos bancos centrais e a exigência de uma austeridade além do suportável.