O sonho americano (ainda) não acabou – Parte 1

Quando a ‘Torre de Xangai” (Shanghai Tower) estiver pronta em 2015 será o prédio mais alto da China, e o mais impressionante na paisagem urbana da maior e mais pujante cidade chinesa, hoje com mais de 23 milhões de habitantes.

(A capital Beijing -ou ‘Pequim’, dependendo do sotaque de quem fala – segue em honorável segundo lugar, com ‘apenas’ 20 milhões de munícipes).

Essa gigantesca obra deverá ser “o símbolo da dinâmica emergência da moderna China”, gabam-se seus empreendedores.

Menos ostensivamente, vai simbolizar também a América moderna, eis que o ‘design’ se deve à empresa americana de arquitetura Gensler, e a engenharia estrutural está a cargo da empresa também americana Thornton Tomasetti.

As construtoras do novo mundo estão deixando sua marca no horizonte da milenar Shanghai.

Não porque à China faltam arquitetos e engenheiros – as empresas estrangeiras são obrigadas a trabalhar em conjunto com as chinesas, que trazem seus arquitetos e engenheiros – mas porque carece de experiência, no caso, com arranha-céus.

A exportação de ‘know-how’ – acima exemplificada na área da construção civil – notadamente à Ásia, tem se revelado fonte de revitalização da economia americana, nessa hora em que o mercado interno e o europeu estão capengando.

De1982 a 2007, os consumidores eram o motor da economia da América, e seus gastos em bens, serviços e moradia chegaram a 74% do PIB.

O déficit comercial – alavancado pelo ‘made in China’ e a importação de petróleo – saltou de menos de 1% do PIB no início dos anos 90 para 6% em 2006.

Tal déficit se alimentava da entrada de poupança externa, vinda particularmente da Ásia oriental e do Oriente-Médio, e muito desse dinheiro foi utilizado pra comprar – a prazo, via empréstimo fácil e barato, claro! – casas supervalorizadas, ‘preservadas em bolha’, e a crise financeira se anunciou, triunfante e ostentosamente, em forma de enxurrada morro abaixo.

Uma das medidas a serem tomadas, pra evitar o roldão – com consenso ou sem senso –  era suprir a falta de capital dos bancos.

Esse socorro da cavalaria veio de forma polêmica, mas eficaz: o ‘equity ratio’ bancário, sob intensa pressão do Tesouro, agora passa dos 10% – superior aos níveis anteriores à crise e maior que o dos bancos da zona do euro.

Ao mesmo tempo, os consumidores americanos estão sendo forçados a se engajar num longo e difícil processo de amortizar dívidas e de aprender a viver com (menos) recursos próprios.

Embora natural, essencial e saudável, por prevenir males maiores, em termos econômicos, esse processo diminui o ritmo da recuperação.

Tanto que, nos últimos três anos desde o fim da recessão, o crescimento do PIB tem ficado ao redor dos 2,4% e, neste ano, pode nem chegar a esse número.

O emprego nas cidades cresceu menos de 0,1% (80.000 contratações) em junho, o terceiro mês numa sequência de crescimento inexpressivo, e o desemprego se mantém na circunvizinhança dos 8%.

Os mercados emergentes estão se estagnando, a Europa permanece em crise, e os negócios domésticos ‘ficam em suspensão’, temendo aumento de impostos e mais cortes nos gastos públicos no ‘Thanksgiving’ pós-eleitoral.

Contudo, apesar do fato do crescimento da economia americana não parecer tão impressionante assim, seus componentes revelam uma mudança intrigante:

Nas recuperações econômicas havidas em 1991 – 1994 e em 2002 – 2004, quando as taxas de crescimento do PIB giravam em torno dos 3%, as exportações contribuíram com menos de 20%;

Atualmente –  considerando o período entre o terceiro trimestre de 2009 e o primeiro trimestre de 2012 – as exportações têm representado 43% dos atuais 2,4% de crescimento.

Esse crescimento da participação das exportações no aumento do PIB também pode ser considerado trunfo – seja acaso ou mérito! – da administração de Barack Obama, que estabeleceu, no início de 2010, a meta de dobrar as exportações americanas em cinco anos.

Já atingimos metade do objetivo ”, disse recentemente Rebecca Blank, sua atual ‘Secretária de Comércio’ (Secretary of Commerce).

O déficit comercial, a despeito de estar melhor que em 2006, continua ainda alto, nos seus 4% do PIB.

Segundo Blank, seria menor se não fossem dois fatores fora de seu controle: o esfriamento da economia mundial e o crescente preço do petróleo, que é o item

‘mais pesado’ das importações americanas.

 

Fonte: Bureau of Economic Analysis