O sonho americano (ainda) não acabou – Parte 2

Na primeira parte deste artigo (post de 19 de julho), eu comentei sobre a lenta, mas estável, recuperação da economia americana e o crescimento relativo de suas exportações, que saltaram de 20% para 43% de participação no crescimento de 2.4% do GDP (Gross Domestic Product) nos últimos três anos.

A ênfase no mercado externo, desvio natural diante do arrefecimento da disposição gastadora doméstica, só tem se materializado, obviamente, com a vontade dos compradores de fora, e os mercados emergentes não têm disfarçado esse seu interesse: a partir do final de 2007, as vendas dos EUA aos parceiros tradicionais (OECD – Organization of Economic Cooperation and Development) cresceram 20%, enquanto que aos sul-americanos e à China, aumentaram 51%  e 53%, respectivamente.

Essa pressão peristáltica tem afetado todos os setores da economia, seja de commodities, de manufaturados ou de serviços, mas a celebridade tem sido este último.

O setor de serviços é, desde longa data, o carro-chefe das vendas ao exterior americanas, representando 30% do seu volume.

E o pagamento de royalties, juntamente com os chamados ‘serviços privados’ – serviços científicos, de engenharia e de consultoria, bem como financeiros – são os que mais avançam.

A exportação de tais serviços ao Brasil, Índia e China praticamente duplicou entre 2006 e 2010.

A venda de tecnologia digital, na forma de applications (‘apps’) e jogos pra computadores, iPhones, iPods, iPads e ‘aissemelhados’, tem se multiplicado exponencialmente.

Os eletrônicos deverão render 206 bilhões de dólares em 2012 – 80% de tudo o que o Brasil exportou em 2011 – sendo 29 bilhões de dólares só na forma de tablets.

A indústria de manufaturados, transformada em made-in-china por tempo demais, começa a voltar pra casa, estimulada pela combinação dólar enfraquecido + folha salarial ‘mais-baixa-melhor-que-desemprego’ + salário crescente do ‘operário-chinês-que-progride’.

Resultado: mais made-in-usa em Pequim! Quem diria?

Os mercados emergentes também estão ajudando os EUA a retomar o seu papel de grande produtor de commodities.

Diante da enorme demanda, os preços dos grãos têm subido aos céus, e os fazendeiros dão graças, enquanto cargueiros lotados congestionam mares e canais, infernizando terminais portuários.

É indiscutível que a seca mais seca dos últimos 50 anos, bem no meio do meio-oeste americano já trouxe um grande dano ao maior produtor de milho e soja do mundo, mas alavancou os preços, e quem conseguiu estocar alguma sobra da boa colheita do ano anterior se locupletou.

O Brasil – maior exportador de soja do mundo – prestes a colher mais uma safra recorde (75 milhões de toneladas) também dá graças, e retribui comprando muitas máquinas, colheitadeiras e plantadoras, de olho na posição de maior produtor mundial já no próximo plantio.

Se a demagogia dos políticos, de foice nas mãos, deixar em paz a pesquisa e o desenvolvimento (Research & Development – R&D), área esta que já recebe bem menos suporte financeiro que nas décadas de 60 e 70, a América deverá continuar a produzir conhecimento científico e tecnológico, e a vender desenvolvimento, e não faltará interessado tão cedo…

É bom saber que, apesar de todo o frenesi do corte de custos – muitas vezes como no tempo do ‘só-pra-inglês-ver’! – ainda não apagaram a luz no fim do túnel…

O mundo, conscientemente, tem alternado mordida e ‘assoprão’ no Tio Sam, e, penhorado, agradece a convalescença do colega gigante, too big to fall

Fontes: Tipnews.info e The Economist