O que ainda veremos?

O excesso de atribuições e de trabalho tem me furtado o tempo essencial à mais prazerosa atividade que conheço: a leitura. Tenho lido menos, mas não posso deixar de fazê-lo. Tenho à minha cabeceira vários livros que leio simultaneamente. Depende do cansaço, do estado de espírito, da vontade de enfrentar desafios. Uma leitura que atualmente me fascina é a do livro “Muito além do nosso eu”, do cientista brasileiro Miguel Nicolelis. 

Ele prevê que os avanços neurocientíficos nos levarão ao verdadeiro “admirável mundo novo”. Ele assegura que eles permitirão transformar a maneira pela qual interagimos com as ferramentas que fabricamos para dialogar com o mundo, a forma de comunicação, a interação com ambientes distantes e outros mundos. Para ele, algumas de nossas rotinas vão ser executadas diretamente sob o controle de nossa atividade elétrica cerebral. 

Assim como as ondas de rádio transitam sem que o percebamos, a nossa atividade elétrica cerebral navegará livremente. O desafio é grande: “Por apenas um momento, imagine viver num mundo onde as pessoas usam seus computadores, dirigem seus carros e se comunicam umas com as outras simplesmente por meio do pensamento. Sem necessidade de usar teclados complicados e lentos ou direções hidráulicas. 

Sem precisar contar com movimentos corporais ou imperfeições da linguagem falada para expressar cada uma de nossas verdadeiras intenções e pensamentos”. A força de nossos “relâmpagos cerebrais” impulsionará nossas atividades motoras, perceptuais e cognitivas. Isso é mesmo fantástico: 

“Nesse futuro, sentado na varanda de sua casa de praia, de frente para seu oceano favorito, você um dia poderá conversar com uma multidão, fisicamente localizada em qualquer parte do planeta, por meio de uma nova versão da internet (a “brainet”) – de brain, cérebro! – sem a necessidade de digitar ou pronunciar uma única palavra. Nenhuma contração muscular envolvida. Somente através de seu pensamento”.

Eu gostaria de vivenciar esse mundo, embora saiba que ele poderá trazer algumas confusões. Não haverá privacidade no pensar. Todos saberão o que todos estão pensando. Já pensou nisso? Mas que é instigante acreditar que isso chegará, não há dúvida. O que será que ainda veremos neste nosso sofrido planeta?