ALCKMIN E SÃO PEDRO

Tratando apenas do estado de São Paulo, já que a crise hídrica é mundial, o
governador Geraldo Alckmin, homem racional e especialista em minúcias, cedeu
a política barata e mentirosa. Surpreendeu mostrando-se mais um pouco do
mesmo, com a inabalável fé no chaveiro do céu, ao esperar indefinidamente
pelos préstimos de Tupã, Deus primitivo das tempestades entre nossos índios.
Alckmin é o principal responsável pela não contenção da crise hídrica que
culminará em certo racionamento. Em seu quarto mandato não incentivou
políticas sustentáveis e racionais para armazenamento, distribuição, reuso e
consumo de água. Muito pouco ou quase nada se fez por conta de seu nome nas
urnas de outubro. O cidadão brasileiro livre e solto pode consumir até 4 mil
litros de água por dia, contra 200 litros possíveis. O relatório da Rede WWF
(World Wide Fund for Nature), lembra que para produzir uma batata são
necessários 25 litros de água; para um ovo, 135 litros; para um hambúrger,
2.400 litros; para o algodão de uma camiseta, 4.100 litros, ou 75 litros
para um copo de cerveja, 200 litros para uma taça de vinho, 140 litros para
uma xícara de café, 40 litros para uma fatia de pão. Daqui a pouco o
outono entrará em cena e nem São José nem São Pedro abdicaram da
imparcialidade de sua condição de protetores de todos e não têm mostrado
grande disposição para confirmar chuvas eventuais ao longo do ano. Além do
mais, vamos convir que, se são santos, eles também precisam ser justos. E
injustos seriam se premiassem a incúria do gestor paulista, em relação às
necessárias providências para que não faltasse água à população que cresce e
paga impostos pesadíssimos para nada. O Sistema Cantareira, engenhosa
conjugação de represas que, a uma razoável distância da Grande São Paulo,
tem abastecido a maior parte de sua população, não serviu de modelo para
nada. Governadores tucanos sucederam-se no principal gabinete do Palácio dos
Bandeirantes por anos a fio (Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra e
Alberto Goldman), com intervalo ocupado por aliado (Cláudio Lembo), sem que
nenhum deles tivesse a luminosa idéia de gastar parte da dinheirama ao seu
dispor para providenciar barragens similares que pudessem afastar para as
calendas os riscos do “de dia falta água”. Só eles poderiam ter tomado a
providência. Se não o fizeram, que diabos São Pedro tem que ver com isso?
Incompetência e desrespeito é o nome disso.