Alô é o papa

Este jornalismo de superfície e banalidade que caracteriza a nossa era procura se deter sobre curiosidades e fofocas. Estes dias noticiou-se que os telefonemas do Papa Francisco são assunto da mídia mundial. Foi necessário que ele próprio viesse a afirmar o óbvio: seus telefonemas não são notícia! Disse o Papa:

“Sempre fiz isso, inclusive quando vivia em Buenos Aires. Recebia um bilhete, uma carta de um padre em dificuldades, de uma família ou de um presidiário e respondia”. Pois para ele, “é muito mais simples telefonar, informar-me do problema e sugerir solução, se houver. Telefono para alguns e escrevo para outros”. E comentou, com seu conhecido bom humor: “Menos mau que os jornalistas não sabem de todos os telefonemas que faço!”

De acordo com o New York Times, o Papa Francisco enerva o Vaticano e delicia os fiéis ao ligar espontaneamente para as pessoas. Tanto que o chamam “o Papa telefônico”. No início de setembro, ele ligou para confortar uma mulher grávida cujo namorado, casado, a forçava a praticar aborto. O Papa se ofereceu para oficiar o batizado do bebê, quando ele nascer no ano que vem.

Em agosto, ligou para uma mulher na Argentina que fora estuprada por um policial. Disse a ela que não estava sozinha e que deveria ter fé na Justiça. Em agosto, Michele Ferri, de Pesaro, Itália, atendeu ao telefone e se assustou ao ouvir: “Alô, Michele, aqui é o Papa Francisco”. Michele achou que era trote, mas teve certeza quando ouviu o interlocutor falar da carta que escrevera e sobre a qual não comentara com ninguém.

Michele contou tragédias ao Papa e Francisco disse que até chorou ao ler a carta. O medo do Vaticano é que pessoas imitem o Papa. Já houve um telefonema falso ao ditador sírio Bashar al-Assad. Mas o importante nisso tudo é extrair uma lição: o chefe da Cristandade, um chefe de Estado respeitado em todo o mundo apanha o telefone e disca, levando sua palavra de conforto e consolação.

Enquanto os tiranetes, os pretensiosos, os vaidosos, ficam questionando “quem entra em linha primeiro”, no teste de vaidade que é rotina em tantos espaços públicos. Mais uma lição de humildade do Papa Francisco, a ser seguida por aqueles que dizem admirá-lo, mas que nada fazem para imitá-lo.