A América à beira do abismo.

Desde sua vitória suada nas eleições de novembro, o presidente Barak Obama não tem tido tempo de celebrar a sua reeleição, sob pena de cair num precipício, arrastando consigo os demais americanos…

Fiscal Cliff” (“Precipício Fiscal”) é a expressão que mais se ouve por aqui, enquanto os varejistas preocupados aumentam o volume das canções natalinas pra abafar a apreensão da freguesia arredia.

Esse termo foi popularmente adotado para descrever o dilema que o governo americano terá de enfrentar logo após a sobremesa do reveillon, quando os termos do Budget Control Act de 2011 entrarão em efeito.

Entre as benesses que se tornarão abóboras – ou abacaxi pra descascar – após a meia-noite do último dia de 2012, estão o final da redução generalizada das taxas do fisco nas folhas de pagamento, concedida no início do governo Bush, e o corte drástico de diversos créditos e/ou deduções na declaração do imposto de renda da classe média, bem como das empresas em geral.

O subsídio temporário na folha de pagamento para as taxas de seguridade social (Social Security) – de empregador e empregado – também deverá expirar.

Como resultado, o Tax Policy Center (Centro de Política de Tributos) estima que o ônus tributário ao contribuinte será, na média, de mais de 3 mil dólares no próximo ano.

Adicionalmente, o “Obamacare” (Affordable Care Act) deverá impor um aumento coletivo de imposto de 20 bilhões de dólares em 2013 aos indivíduos com renda superior a 200 mil dólares anuais.

Simultaneamente, os cortes automáticos nos gastos do governo, em decorrência do começo da vigência do Deficit Control Act, também aprovado em 2011, afetarão profundamente mais de 1.000 programas governamentais, incluindo áreas politicamente sensíveis como defesa, educação e saúde – que envolve o Medicare dos veteranos aposentados.

Assim, os EUA – que projetam um crescimento econômico em torno de 2%  em 2012 – encaram a possibilidade de sofrer sua terceira recessão em pouco mais de 10 anos, se o presidente e o Congresso americanos não chegarem a um acordo pra não cair nesse famigerado “Fiscal Cliff”.

De acordo com o Congressional Budget Office, a combinação incompatível de aumento de impostos e de corte de gastos públicos a partir de janeiro poderá elevar o desemprego a níveis superiores a 9%.

Ao lidar com tamanho impasse fiscal, ao Congresso americano – de Senado democrata e Câmara republicana, como no primeiro mandato do presidente democrata – é dado escolher entre três opções de alto teor litigioso:

  • Deixar como está pra ver como é que fica

Tentação dos que encerram o mandato neste ano, a inércia seria catastrófica, como mencionado acima, mas reduziria o déficit, como percentual do PIB, à metade, financeira e insensivelmente pensando;

  •  Cancelar os aumentos de impostos  e os cortes de gastos acordados e agendados

A pura e simples anulação do arduamente consentido há menos de dois anos entre o Legislativo e o Executivo – medida extrema, se não contraditória – poderia evitar a recessão em princípio, mas alimentaria ainda mais o déficit e aumentaria as chances dos americanos depararem com uma crise semelhante à que ocorre na Europa;

  •  Nem tanto ao mar (lá embaixo), nem tanto à terra

Uma posição intermediária, que vise algum tipo de combinação entre corte de gastos e aumento de receita via economia estimulada, se faria necessária para reduzir o déficit orçamentário, a dívida pública e para tentar escapar da recessão.

Sem sucumbir à gravidade, apesar da atração fatal do voo livre…

Não obstante o quiprocó, esta última opção parece que será a escolha da turma de Washington D. C., a menos que resolva pagar pra ver despencar a confiança do consumidor e a segurança do empresariado em tomar decisões em relação aos seus investimentos.

De qualquer modo, os horizontes não são nada alvissareiros.

Nem internamente, nem àqueles países que dependem da SWAT pra puxá-los do despenhadeiro…