O amor que une pessoas e animais sempre existiu. Quem possui um bicho de estimação conhece a intensidade do sentimento que une duas espécies vivas. O livro “Beyond words: what animals think and feel” (Além das Palavras: o que os animais pensam e sentem), do ecólogo Carl Safina, da Universidade Stony Brook, ainda não foi traduzido no Brasil. Mas enfrenta um tema que muitos já superaram: só por preconceito as pessoas evitam dizer que os bichos também têm vidas mentais e emocionais. Muitas vezes, quase tão complexas como as nossas.
É verdade que “só seres humanos possuem mentes humanas. Mas acreditar que só seres humanos possuem mentes é como acreditar que, uma vez que só pessoas possuem esqueletos humanos, só pessoas têm esqueletos”, diz Safina.
As provas de fidelidade canina, a sinergia entre o cavaleiro e seu cavalo, a linguagem silenciosa do gato e seu dono, tudo mereceria análise aprofundada. Mas a proposta de Carl Safina é demonstrar que a ciência tem condições de concluir pela existência de vida mental e emocional dos irracionais. Aliás, a cadeia genômica também comprovou existir diferença mínima entre o homem e os demais animais.
Três mamíferos de vida social complexa orientaram as pesquisas que resultaram no livro do ecólogo. Os elefantes africanos, as orcas do Canadá e os lobos de Yellowtone. Os mamíferos sociais têm personalidades bem definidas e muito características. O lobo conhecido por “Vinte-e-Um” é uma lenda entre os biólogos do Parque Nacional Yellowstone, porque nunca foi derrotado, já lutou com seis lobos simultaneamente, mas nunca matou um adversário. Gostava de brincar com filhotes e fingir que eles ganhavam o confronto.
Uma grande matriarca dos elefantes africanos morreu de causas naturais e sua mandíbula foi levada por pesquisadores para estudo em seu acampamento. Semanas depois, a família da fêmea passou por lá e foi diretamente em direção ao osso, manipulando-o carinhosamente por vários minutos. E há muitos outros exemplos.
Compreende-se, portanto, os vegetarianos que se condoem do sofrimento do gado e não comem carne vermelha, ou boicotam o foie-gras, obtido mediante sacrifício desumano dos gansos.