Embora ainda elogie a evolução no combate à corrupção no Brasil – segundo a Transparency International, o país está na sexagésima-nona posição entre as nações mais limpas, e na América do Sul só perde no quesito incorruptibilidade para o Chile e o Uruguai – graças principalmente à repercussão do julgamento do mensalão, a revista The Economist parece refletir o final da lua-de-mel da comunidade econômica internacional com o Brasil…
Sob a manchete de capa “O Brasil se arrebenta” (“Brazil crashes”), o hebdomadário inglês publicou recentemente três artigos sobre o Brasil. Nenhum deles lisonjeiro, como vinha sendo a tendência dos observadores internacionais em relação ao desempenho da economia brasileira.
Em tais reportagens, a revista de economia sugere a Dilma Rousseff que troque toda a equipe econômica, caso pretenda se reeleger, com a benção do padim, em 2014 – que Deus nos illumine sem cegar, como sói acontecer!
A crescente desconfiança do empresariado em geral tem sido estimulada pelos declinantes indices de crescimento do PIB brasileiro, pelas falsas profecias do Mantega e pela provável incapacidade da nossa economista-presidenta de evitar o desastre.
Os motores que fortaleceram a economia brasileira na última década começam a dar sinais de pane.
Os preços das commodities exportadas, apesar de ainda altos, pararam de crescer, e os consumidores nacionais estão usando seu dinheiro pra quitar empréstimos com os quais compraram carro, fogão, geladeira e televisão pra colocar nas casas hipotecadas.
Ao invés de depender só do consumo – ainda com muito espaço pra crescer no Brasil – o crescimento agora terá que vir do aumento de produtividade e de investimento.
Isso significa atacar corajosamente o famigerado custo Brasil, essa combinação perversa de burocracia, imposto pesado, crédito comparativamente caro, falta de infraestrutura e moeda superestimada, que faz do país um lugar punitivamente oneroso pra fazer qualquer negócio legal.
A necessidade de melhorar a competitividade parece ser consensual no governo, que cortou em 15 meses mais de 5 pontos percentuais na taxa de juros – de 12,5% para os atuais 7,25% – o que tem ajudado a enfraquecer o real e a dar sobrevida à indústria manufatureira.
Entre os incentivos ao investimento e ao emprego, a partir de janeiro de 2013, há a substituição da contribuição patronal ao INSS, de 20% sobre a folha salarial, pela tributação de 1% a 2% sobre o faturamento bruto, beneficiando as empresas que mais empregam – e fazendo com que as outras empreguem mais – dependendo da participação da folha salarial nas diversas atividades e no faturamento.
O setor da construção civil – que paga pouco, mas contrata muito, num mercado que ainda tem um déficit de mais de 7 milhões de moradias – deverá ser incentivado pela diminuição da alíquota do seu Regime Especial de Tributação de 6% para 4%, o que deverá levar mais serventes à classe média brasileira, que, assim, poderão levantar e cobrir ou finalmente rebocar as paredes de suas casas.
Paralelamente, companhias privadas são convidadas a construir melhorias em aeroportos, estradas e linhas férreas, bem como o setor elétrico é instigado a reduzir suas tarifas, sendo que, neste último caso, o que se instigou até agora foi a ira das companhias de eletricidade, estaduais, que não aceitam ser o periquito – e muito menos o milho! – dos papagaios de Brasília, entre um apagão e outro…
Apesar de todo o aparente esforço governamental, o investimento tem caído nos últimos cinco trimestres e hoje responde por apenas 18,7% do PIB, contra 30% no Peru e 27% no Chile e na Colômbia, estrelas atuais do crescimento da economia latino-americana.
A razão mais provável dessa resistência empresarial em engrossar a participação dos investimentos no PIB tupiniquim é que a cacica se intromete demais.
A evidente vontade federal de determinar o retorno do investimento por decreto, não apenas aos bancos, mas também às companhias elétricas e outras empresas do setor de infraestrutura, tem arrefecido o interesse e o entusiasmo privado.
Dona Dilma tem dado a entender que o estado tem que participar das decisões – se não tomá-las – nos investimentos privados, e tal micro-bisbilhotice tem minado a confiança do empresariado, que passa, assim, a duvidar também da política macroeconômica da equipe.
É preciso aprender mais com os países que têm conseguido alguma melhora diante da crise que todo o mundo atravessa.
Como doentes da vez, cumpre-nos parar de querer, pedantemente, ensinar a cura, antes que o BRIC, sigla que representa os países de maior crescimento de acordo com Jim O’Neill (*), se torne apenas RIC – ou, pior ainda, que a este se acrescente um PCC, de Peru, Chile e Colômbia!
(*) Atribui-se a Jim O’Neill, chairman da Goldman Sachs, a criação, em 2001, do acrônimo BRIC (iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China), em seu trabalho “Building better global economic BRICs”.
Tais países – também alcunhados de “Big Four” – apresentavam índices semelhantes de grande crescimento econômico.
Hoje tal sigla – que se tornou BRICS (S de South Africa) – é usada como símbolo da mudança do poder econômico do G7 para as nações chamadas emergentes, as quais deverão superar esse Grupo dos Sete por volta de 2030.