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O Brasil gosta de se espelhar nos Estados Unidos. Dele, copiamos tudo: moda, música, cultura, consumismo, demandismo, encarceramento como única resposta para as infrações. Antes, eram apenas os ricos que faziam enxovais para seus nascituros em Miami. Hoje, com a ascensão da “classe média”, qualquer pessoa tem esse direito. Levar as crianças à Disney já motiva as classes “B” e “C”.

Para se destacarem, os novos ricos adquirem apartamentos na Flórida. Mas porque não imitamos outras coisas dos americanos? O amor que eles têm à sua Constituição, por exemplo? A sua afeição à escola, que continua a receber os ex-alunos pela vida afora? A generosidade de seus ricos? Há alguns dias, John A.Paulson, administrador de fundos de hedge fez uma doação de cem milhões de dólares para a Central Park Conservancy, a entidade privada que administra o Central Parque.

Este não foi o primeiro ato de civismo perpetrado por Paulson. Em 2009, ele doou vinte milhões de dólares à New York University Stern School of Business e cinco milhões de dólares ao Southampton Hospital em Long Island. Aqui no Brasil, as pessoas reclamam da podridão do rio Tietê, do depauperamento das represas Guarapiranga e Billings, do abandono do centro das cidades.

Todos os centros foram convertidos em cenário tétrico, derrubados os exemplares arquitetônicos emblemáticos, hoje habitados por um lumpesinato errante. Mas quem se dispõe a atuar para devolver a beleza roubada pelo descaso, insensibilidade, indiferença? Até quando o brasileiro pensará na coisa pública como “coisa sem dono, coisa de ninguém”?

Por que esperar que o governo faça tudo, se o governante é um mandatário que deveria atender à orientação e mesmo às ordens de quem o elegeu e a cujo serviço precisa estar devotado? Por enquanto, parece que nossa vocação de reproduzir aqui no Brasil tudo o que os americanos fazem só focou o pior, o inadequado, o equivocado e o mau exemplo. Raríssimas as exceções entre os ricos, que pensam durar eternamente.

A certeza é a de que, ao partirem, verão o seu patrimônio dilapidado por ambições dos herdeiros. O futuro reservará à fortuna um fim melancólico. Herdeiros, na verdade, serão os advogados, como remuneração pelo trabalho para destrinchar as brigas homéricas das gerações tão gananciosas como seus extintos pais.