Embora 2014 tenha sido um ano terrível, em que as entranhas da Nação tenham ficado à mostra, num espetáculo de degradação inimaginável, encaremos o fenômeno com a possível serenidade. Os processos infecciosos têm um tempo de duração. Iniciam-se imperceptivelmente, disseminam-se, agravam-se, explodem e, se bem acompanhados, exaurem-se. A fase seguinte é a da recuperação do organismo.
Não é possível ignorá-los. Às vezes, o antibiótico é insuficiente. É imprescindível lancetar o tumor, esterilizar a área afetada e mesmo cauterizá-la. Processo doloroso, mas tendente à cura.
O mesmo ocorre com a saúde combalida do Estado. Os aumentativos enfatizam o que se fez com o dinheiro do povo. Um povo do qual se exige uma tributação exagerada, com devolução pífia daquilo que se arrecada. Um povo que continua com o atendimento à saúde em crescente déficit, sem saneamento básico, quase sem água. Principalmente, um povo incapaz de se indignar. Porque não existe um esquema satisfatório de verdadeira educação. Educar não é fazer a criança decorar coletivos, saber responder quais os afluentes de um rio ou conjugar adequadamente um verbo. Nem fazer análises sintáticas ou conhecer a função de um verbete na frase. Não. Educar é despertar o ser humano para refletir, para extrair suas próprias conclusões, para assumir o seu protagonismo de regente da sua existência.
Ao contrário, acenou-se para o excluído com um País Maravilha, em que o governo é responsável por cuidar de todos como se foram crianças impotentes, mantendo-os na situação de inimputáveis. Tudo tem de cair do céu. E desde que haja um pouco de pão, o circo faz o resto.
Será que o exagero no ataque ao Erário, a promiscuidade entre agentes estatais e prestadores de serviço não atingiram o limite do intolerável? Será que não chegamos ao fundo do poço? Será que a partir de agora, a lucidez reaja e exija a recomposição da economia violada, a recuperação do dinheiro desviado, a correção de rumos e a rígida adoção de moralidade no trato da coisa pública?
Quem não perdeu a capacidade de indignação deve exprimir a sua legítima postura de alguém que se sente diretamente lesado e tem direito à restauração dos valores que alicerçam uma República.