Cada vez mais tristes

Claude-Lévy Strauss escreveu “Tristes Trópicos” pensando no Brasil. Dele a frase que irou os ufanistas: “O Brasil chegou ao declínio sem passar pelo ápice”. Frase proferida quando voltou a São Paulo, 50 anos depois de aqui haver residido em 1935, quando ajudou a formar o núcleo inteligente da USP.

O que diria ele nestes dias? O orçamento da República para 2015 previa em agosto de 2014 um PIB de crescimento aproximado a 3%, com inflação de 5% e superavit primário de 2%. Em novembro o PIB era 2%, a inflação 6,1% e manteve-se a expectativa do superavit primário. Ocorre que em dezembro verificou-se um PIB quase negativo – 0,8%, uma inflação de 6,5% tendendo a crescer ainda mais e um superavit de 1,2%.

São Paulo, a “locomotiva” a sustentar uma Federação que não cabe no PIB – a expressão é de IVES GANDRA DA SILVA MARTINS – não está melhor. Para um orçamento geral de 2,488 trilhões, é previsto um pagamento de juros de 22,3%, uma despesa com previdência de 21,9%, uma folha de pagamentos de 13,4%. Depois, vêm as verbas com destinação vinculada: saúde: 5,8%, educação 4,5%, PAC – 3,4% – Transferência para os municípios 13% e demais despesas, consideradas aqui as dotações para o Legislativo e para o Judiciário, de 10,7%. Sobram para investir parcos 5% desse orçamento de quase 2,5 trilhões.

O anúncio da equipe econômica já escalada para enfrentar a crise não alivia as expectativas. Os prognósticos são de realinhamento de preços e tarifas. É preciso muita esperança e criatividade para encarar com otimismo o ano que começa dentro em pouco.

Talvez se extraia disso uma consciência maior de todos os brasileiros. O Brasil precisa de mais sacrifício, mais esforço, mais trabalho, mais seriedade. A Reforma Política é urgente. O Estado precisa ser menor e mais eficiente. A educação tem de preparar para uma vida melhor. Tem de ensinar cada pessoa a ser protagonista da própria existência e não a esperar que o governo continue ser o grande provedor, o “paizão” ou “mãezona” que atenderá a todas as necessidades. Se isso não acontecer, a coisa ficará cada vez pior e o cenário cada vez mais triste.

Mesmo assim, o possível 2015 para cada um de nós!