O preconceito é um sentimento negativo. Quando exagerado é ilícito. O constituinte de 1988, desde o preâmbulo do pacto federativo, condena o preconceito. O ideal para o povo brasileiro é edificar uma Pátria justa, fraterna, solidária, em que não haja qualquer espécie de preconceito.
Infelizmente, o preconceito ainda existe. Aqui e lá fora. Neymar que o diga. Recentemente, outras figuras notáveis foram alvo de racismo. E são pessoas belas, ricas, famosas e poderosas. Que mesquinhez e mediocridade a de quem as agrediu!
Mas há um preconceito disseminado que às vezes passa desapercebido. É aquele nutrido por quem se considera erudito, em relação à literatura chamada “de auto-ajuda“. Tudo aquilo que é assimilado de imediato, por sua singeleza e objetividade, pela clareza, pelo linguajar ao alcance de qualquer pessoa, é repudiado pelo pernosticismo. Não é difícil ser complicado. O difícil é ser simples.
Parece-me que o que está em jogo não é a qualidade da literatura produzida por quem consegue escrever algo destinado a ser “best-seller“. É exatamente a potencialidade das vendas. Vendeu milhares de livros numa Pátria de analfabetos? Então é auto-ajuda e não merece louvor.
Coisa pobre e careta. Ainda bem que os que vendem não se impressionam com as críticas. O masoquismo acadêmico é que está se martirizando porque não consegue atrair leitores. Ao comentar o fenômeno, Alain de Botton, jovem rico e culto, diz que ele “reflete um preconceito metafísico de que a verdade deve ser um tesouro conquistado a duras penas. E, por conseguinte, tudo o que é lido ou aprendido com facilidade merece ser considerado frívolo e inconsequente“.
Concordo com ele, embora não adote o seu “evangelho ateísta“, que conquista muitos adeptos no Velho Mundo decepcionado com a falácia da razão. Para mim, todo livro deve ser de auto-ajuda. Se não nos transforma, não nos acrescenta em nada, por que lê-lo então?